Olá, para todos,
Datas,
tempos, anos... Há alguns momentos em nossa vida que nos são mais marcantes,
que parecem ser gravados em nosso perispírito com mais profundidade: o primeiro
brinquedo, os primeiros dias em que recordamos da nossa existência, mãe, pai,
irmãos, escola...
Esta
blogagem remeter-nos-á até o ano de 1982, um desses anos que marcam a gente... E
comigo não foi diferente.
Reiniciava
os estudos primários – antiga 2ª série e lembro-me de que, logo no começo do
ano eclodiu a malfadada GUERRA DAS MALVINAS, uma disputa imbecil entre uma
ditadura sangrenta – e igualmente imbecil - e uma coroa imperialista, não
obstante eu gostar das duas nações, mas que, como sempre, seus governos deixam
a desejar.
Via
e ouvia alguns aviões militares – para cá e para lá – fazendo “manobras” em
nosso céu. É interessante notar o papel do Brasil no episódio, pois é de sobejo
conhecimento de todos a RIVALIDADE das ditaduras brasileira e Argentina (exceto
quando se tratava de torturar e/ou matar/sumir com os chamados “subversivos”.
Basta vermos a chamada “Operação Condor”...)e do histórico alinhamento
brasileiro com os EUA, que obviamente sempre foram alinhados à Inglaterra...
Que dúvida cruel, não?...
Bola adidas, da Copa de 1982: Linda. |
Lembrando
sempre que, também vivíamos ainda sob a chamada “Guerra Fria” entre os stalinistas,
representados por aquele monstrengo da URSS e os velhos capitalistas de sempre
– EUA, e suas respectivas esferas de influência, seus “satélites”, ou suas
colônias, que sempre foram exploradas, tanto de um lado como de outro. Tempos
difíceis aqueles, de hiperinflação (os mais novos não lembram mesmo) e de
dificuldades, para muitos.
Como
eu era muito criança não ligava muito para tudo isso, não. Meu lance mesmo era
empinar quadrado, jogar bola e ficar na rua o dia inteiro (eu e os nossos cachorros...
Principalmente o Totó... Aliás, não sei quem mais ficava na rua, se era eu, ou
ele...).
Tinha
os meus amigos que me acompanhavam: Maurício e, de vez em quando o Jayson (acho
que é assim) e, claro, o Fernando, que desencarnou recentemente, vítima de
acidente automobilístico.
Assistíamos
ao futebol na “Rede Record” (em preto e branco. Não tínhamos TV em cores aqui
em casa, na época), eu e o Anselmo, à noite, naquelas transmissões do Silvio
Luiz, que tirava barato de tudo – principalmente quando o jogo era na Vila
Belmiro, onde havia uma casa, atrás do gol do lado direito da tela, e o Silvio
Luiz ficava “conversando” com os moradores de lá...
Depois,
de dia, conversávamos, todos nós, sobre o jogo da noite passada e das piadas do
Silvio Luiz. BONS TEMPOS!!!...
Eis
aí o clima para a Copa do Mundo que se aproximava... A COPA DO MUNDO DA ESPANHA
– 1982!!!.
Logo da Copa |
Época
também de colecionarmos figurinhas... “Bater figurinhas” na escola, com o
Gilberto (este virava 500 fácil,
fácil). De vez em quando, comprávamos o chiclete PING PONG (era caro, viu?),
onde saíam as figurinhas dos jogadores... Uma verdadeira COQUELUCHE na escola
(muito, mas MUITO diferente de hoje em dia...).
Mascote: O Edmur tinha um pendurado no espelho do Fuscão... |
13
de junho de 1982. 13 de junho de 2012: Há 30 anos começava a Copa da Espanha. O jogo: Argentina – atual campeã,
versus Bélgica. Fazia sol, lá no jogo e aqui também. A Argentina perdeu por 1 a
0, gol de “Van Der Bergh”.
Alguma
coisa sempre me dizia que eu DEVERIA TORCER, além, claro, para o Brasil, mas
também, na falta deste ou paralelamente, para os países sul-americanos, e para
os países do Leste Europeu: Iugoslávia, URSS, Hungria, Polônia, etc. Depois de
muito tempo eu percebi que, na verdade, isto tudo estava dentro de mim, já
durante meu engajamento na Política (não esta que se pratica por aí...)... Com
“P” maiúsculo, a única que vale a pena...
Tive
a oportunidade de acompanhar a Copa inteira, pois estudava pela manhã, e os
jogos eram transmitidos, pela Globo, à tarde - que, para variar, tinha o
monopólio exclusivo das transmissões.
Álbum de figurinhas que colecionei: capa e contracapa. |
Vi
jogos e seleções MEMORÁVEIS: França X Inglaterra, Polônia X Inglaterra, França
X Alemanha, na semifinal (talvez, um dos mais emocionantes que vi, em toda a
minha vida). Até a Áustria, que tinha e tem tanta tradição em Copas do Mundo
quanto um timinho aí, da marginal sem número, tem na Copa Libertadores – ZERO –
tinha um timaço e, só não foi mais longe porque “pegou” adversários de peso
pelo caminho, como a França, que tinha “só” PLATINI (e TIGANÁ) e fez um jogo
ÉPICO (não custa repetir!) contra a Alemanha nas semifinais: 3 x 3, com direito
à prorrogação sofrida e 5 x 4 nos pênaltis, para a Alemanha, onde SCHUMACHER
pegou até pensamento e RUMMENIGGE jogou até “gastar” e levou a Alemanha às finais;
outra que “deu trabalho” também foi a Polônia, com seu mega-artilheiro BONIEK,
que parou nas semifinais, frente à Azurra; e, claro, TODOS OS DO BRASIL.
As duas primeiras páginas do álbum... |
Foi
uma Copa – e a ÚLTIMA - onde o nível técnico das Seleções era muito parecido e
ALTO (hoje é parecido e BAIXÍSSIMO), tanto é verdade que, apesar da TRAGÉDIA DE
SARRIÁ, a Azurra TINHA UM TIMAÇO, um amontoado de craques, que, não só superou
a melhor – O BRASIL - , mas também outra, a ALEMANHA, na final, num jogo
ÉPICO...
Todos os que eram regularmente convocados... Mas nem todos foram à Espanha... |
Destaque,
claro, para a maior goleada da História das Copas: Hungria 10 x 1 El Salvador.
A histórica seleção húngara massacra os debutantes caribenhos...
O
Brasil chegou como franco favorito para esta Copa. Também, pudera: Havíamos
vencido, na preparação, adversários como a URSS (que sempre formou timaços, mas
SEMPRE FOI ROUBADA NAS COPAS), Alemanha, Inglaterra (dentro de Wembley, pela
primeira vez).
"Folder" promocional da Copa. |
Foi,
também, talvez, a ÚLTIMA “SAFRA” de craques (CRAQUES, MESMO, não são como
alguns se denominam, ou que a mídia gosta de endeusar, nos nossos dias) que o
Brasil produziu. Uma seleção que tinha não um “banco de reservas”, mas, sim, um
“SOFÁ”: Falcão, Roberto Dinamite, Renato “pé murcho”, Dirceu, Batista...
Imaginem vocês, que não viram este time, os titulares: Zico, Sócrates, Leandro,
Júnior, Oscar, Eder, Serginho... E ainda deu-se ao luxo de deixar outros por
aqui: Leão, Luís Pereira (em fim de carreira, mas jogava muito, ainda),
Jorginho, Dicá, Zenon, Careca, Perivaldo, Baltazar, Pedrinho, Caçapava, e
outros... Difícil, jogar bola, nesta época?...
A "atual campeã" Argentina, com Mario Kempes, que foi cortado para a Espanha. |
Nos
jogos do Brasil, havia uma grande expectativa, portanto, em torno do título, sempre
atiçada pela Globo, que, para variar, desconsiderava e subestimava o “outro
lado”, no seu já conhecido ufanismo (depois veio as Diretas, que a Globo NÃO
ENTROU, de início, dado o seu compromisso com a ditadura dos generais e a
“morte” do Tancredo, que virou SANTO, da noite para o dia).
O
futebol que se praticava, em todo o mundo, era de ALTA QUALIDADE, com algumas
diferenças técnicas e táticas entre as seleções. É evidente que o Brasil sempre
entrará em qualquer campeonato de futebol como franco favorito, mas, em 1982,
tínhamos a certeza de que isso ocorreria, diferente de hoje em dia, que ficamos
sempre com aquela impressão: “Será?”, “Acho que vai dar...”. Não. Não tínhamos
este “acho”, em 1982.
Dá
para vocês, que não viram a Copa, imaginarem o que significa, para nós, que a
vivenciamos, A TRAGÉDIA DE SARRIÁ? Aquele “terceiro gol de PAOLO ROSSI PARA A
ITÁLIA”, narrado por Luciano do Valle, naquela tarde de domingo, 5 de julho de
1982? Só comparada com a final da Copa de 1950, para vocês terem uma ideia...
O baita time da Itália, campeã de 1982. |
Não.
Não era um fenômeno de mídia, como hoje em dia. Não era. O Brasil SABIA JOGAR,
com classe, futebol de primeira, dava show e ganhava os jogos.
O
primeiro jogo foi contra a URSS, que saiu na frente, com um FRANGO do Valdir
Peres e FOI ROUBADA pela arbitragem, isto é certo, com um gol mal anulado e,
pelo menos DOIS PÊNALTIS não marcados... Mas o Brasil acabou virando o jogo,
com Sócrates, numa cacetada de fora da área e, no finalzinho do jogo, com Eder,
em outra cacetada, no ângulo de Dassayev (O MELHOR GOLEIRO QUE VI JOGAR...
Pegava até vento...). Este jogo, aliás, assisti aqui na minha vizinha, com seu
pai (“Seu” Souza) e meu pai, que estava passando alguns dias aqui em casa, longe
do hospital, na época.
A União Soviética e seu timaço: destaque para Dassaev, o melhor goleiro que vi jogar... |
Fomos
para o segundo jogo, contra os bêbados (brincadeirinha!!!) da Escócia: Saímos
perdendo, novamente, depois de um outro FRANGO de Valdir Peres; mas, aí a
máquina de craques do Brasil virou o jogo: 4 x 1!!!, com show de Zico, Falcão,
Júnior e cia. Ltda.
Depois,
veio o jogo contra a NOVA ZELÂNDIA, debutante em Copas do Mundo: Outro show,
com direito a gol de bicicleta de Zico e tudo: 4 x 0.
Saíamos
gritando feitos loucos, todos nós, nas ruas.
Com
o passar do tempo, esta certeza que dissemos alhures só crescia. Futebol de
“encher os olhos” do mundo.
Passada
a fase de grupos, fomos para a segunda fase, em primeiro lugar. O sistema de
disputa era diferente do que temos hoje: fazia-se uma triangular (novo grupo)
entre o primeiro de um grupo, o segundo de outro e o terceiro melhor colocado
de outro: na seqüência: Brasil, Argentina e a Itália, esta última o grande
“azarão” da segunda fase, já que se classificou na “bacia das almas”, com TRÊS
EMPATES na primeira fase, com um gol salvador, no último minuto, contra o
“esquadrão” de Camarões: 1 x 1.
Jogaram,
entre si, então estes três: no primeiro jogo do grupo, o Brasil – fora o show –
despachou a Argentina: 3 x 1, no estádio de Sarriá – Barcelona. É preciso dizer
que a Argentina, além de ser a atual campeã do mundo, tinha também um timaço:
Fillol, Maradona, Ramón Diaz, Ardiles, etc.
Já
no segundo jogo, a Itália derrotou, também, a Argentina: 2 x 0. A decisão,
então, para quem passaria à próxima fase ficou entre Brasil e Itália, com o
Brasil levando a vantagem, no número de gols marcados.
Tudo
preparado, tudo ajeitado, então, iríamos enfrentar o chamado “azarão” Azurra.
A Azurra prepara-se mais uma vez... |
O
jogo, também, foi um dos mais emocionantes. Um jogaço de futebol. Duas seleções
de craques, mesmo, como vocês poderão ver aí no “youtube”...
Era
o fim do FUTEBOL ARTE, quando, a preparação – principalmente psicológica e
física – ganharam destaque nas competições: não valia apenas ter técnica, mas,
acima de tudo, PREPARO. E é isso que vemos hoje em dia: além deste PREPARO,
outros tipos de “preparo”: ajuda de arbitragem - toda ela comprometida e
corrompida, porque o futebol deixou de ser apenas um espetáculo desportivo, que
se ouvia preferencialmente pelo rádio, para virar pirotecnia e carro-chefe de
audiência da televisão – vide Corinthians, Flamengo, etc., com muita grana e
interesses outros rolando nos bastidores.
O
que restou foi apenas o sonho – e por que não, a lição de ver a melhor seleção
– senão a melhor de todos os tempos – não vencer.
Fica
aí a dica para todos vocês, que não tiveram a oportunidade de ver tudo isso e
que, algum dia, jogou-se futebol no Brasil... Há exatamente 30 anos atrás...
O
Estádio – de Sarriá – , em Barcelona, não existe mais. Foi demolido. Ainda bem.
Mas, a Seleção de 1982 jamais sairá de nossas retinas. E, evidentemente, quem a
viu, na época, sempre será um cético e um crítico contumaz do atual estágio em
que se encontra o futebol brasileiro, sob todos os aspectos... Haja saco, com o
perdão da palavra, para agüentar...
Local da tragédia: Estádio de Sarriá, onde também o Brasil "deu um baile na Argentina... |
Até
o meu Palmeiras, que, na época, estava no auge da chamada “fila”, que formava
equipes tão tenebrosas quanto ela mesma, sempre pessimamente mal administrado,
cheio de brigas internas (isto é de loooooooooonga data!...) era melhor que
qualquer time de hoje em dia. Disparado.
Brasil: Valdir Peres, Oscar, Leandro Luisinho, Paulo Isidoro, Júnior, Batista Sócrates, Serginho, Zico e Eder. Técnico: Telê Santana.
Att,
Alex.
Ps.: Pessoal, fiquem de olho na turma da tal "Rio+20". Vamos ver quem é quem nesta parada. Aliás, já há um forte movimento para a volta das terríveis sacolinhas aos supermercados. Parte de onde? Guarulhos (tinha que ser...). Lamentável.
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