domingo, 2 de setembro de 2018

HEY JUDE/REVOLUTION: 50 ANOS!!!


Bom dia a todos!

Voltamos para conversarmos acerca dos 50 anos do desenho animado “Yellow Submarine”, completados agorinha, que estreou nos cinemas no mês de julho, mais precisamente no dia 17, no London Pavillon, em Londres (onde lá estive em 2014!!!).

Cartaz promocional da "nova" trilha sonora de Yellow Submarine, relançada em 1999, que recortei do jornal e enquadrei... Toda resmasterizada, privilegiando os vocais, e sem a trilha instrumental que George Martin fez para o filme, que vai do lado B da trilha original...

E, claro, também, pelas comemorações dos 50 anos do single de maior sucesso da carreira fonográfica dos Beatles: o compacto “Hey Jude/Revolution”, que fez aniversário nessa semana, no dia 30 de agosto.




Meu DVD do Yellow Submarine... Chiquérrimo!!!

Bem, estava conversando com minha esposa, nesta semana, justamente sobre esses dois lançamentos e de como estamos envelhecendo... E as coisas dos Beatles, também. E os anos 1960 estão cada vez mais ficando para trás...





Encartes e desenhos maravilhosos completam a caixinha onde o DVD vem embalado...

A primeira vez que eu assisti ao filme “Yellow Submarine” foi na “Sessão da Tarde”, da Globo (eca!), nas férias de julho de 1983, numa dessas raras vezes em que eu estava dentro de casa, num dia ensolarado. Provavelmente ou eu não tinha linha, ou não tinha quadrado, ou não tinha vento para estar empinando! E também era no começo da tarde, logo não tinha ninguém disponível para jogar bola!


A Premier de Yellow Submarine, em 17 de julho de 1968 no London Pavillon... Os Beatles ainda atraíam multidões, até para assistir a um desenho animado sobre eles...
... E hoje... ou quase ontem!!! Essas fotos são de 2014, quando lá estive!!!





Fachada do antigo London Pavillon, hoje London Trocadero, um grande shopping center, onde comprei dois pôsteres dos Beatles! Saudades!!!!

Lembro-me que minha irmã Elaine estava em férias e ela sabia que iria passar na “Sessão da Tarde” e me avisou... Aí então, assistimos ao filme! Ainda em preto e branco, porque, nessa época, a gente não tinha TV em cores.

Aspecto do London Pavillon, naquela noite... George, estava acompanhado de Pattie Boyd, sua mulher à época, que o deixou para ficar com Eric Clapton, à esquerda, que não aparece... Ringo e Maureen... Depois, bem... não vou citar... e John... Acima, Keith Richards e Anita Pallenberg, a namorada que ele tomou de Brian Jones...


Já no começo dos anos 2000 adquiri a versão do filme em VHS, lá na Galeria do Rock. No mesmo dia comprei o “Magical Mystery Tour”, também em VHS.

Há alguns anos atrás pedi o filme em DVD, devidamente remasterizado, no amigo secreto de minha família. Um dos meus sobrinhos presenteou-me com ele. Show de bola!


O FILME


Quando Sgt. Peppers e Magical Mystery ficaram para trás, os Beatles, ao retornarem da Índia, foram tratar dos negócios da Apple e, no estúdio, imediatamente gravar novas canções que haviam escrito por lá, e que depois resultou no Álbum Branco.


Nessas idas e vindas os Beatles se envolveram no projeto do filme, uma animação de longa-metragem, realizado logo após Magical Mystery.


Eles ficaram felizes em se ver como personagens de desenho animado, o que os animou a fazer contribuições para a narrativa e mais quatro músicas originais para o filme.


O roteiro foi feito por uma equipe, da qual Erich Segal, autor do romance “Love Story” fazia parte. “Yellow Submarine” é uma fantasia psicodélica, que fala de um reino feliz chamado Pepperland, que é dominado pelos malignos Blue Meanies. Os Beatles saem de Liverpool para salvá-lo em um submarino amarelo e acabam dominando os Meanies pelo poder do amor e da música.




Os Beatles curtiram pacas o longa... E se esqueceram, pelo menos um pouco, das brigas entre eles, que começavam a rolar...


Gosto muito do personagem “Hilary” (cujo nome é Jeremy Hilary Boob!!!). Acho ele bonitinho!



A trilha sonora do filme somente foi lançada em 17 de janeiro de 1969, para não coincidir com o lançamento do Álbum Branco. Em breve falaremos dela, claro, de seus 50 anos!


Hilary Nowhere man!!!..

HEY JUDE/REVOLUTION

Bem, vou contar a história de “Hey Jude” para aqueles que não a conhecem. E, de quebra, de “Revolution”, também!

Quanto ao single, trata-se do mais famoso - porque mais vendido - da carreira dos Beatles. Até o fim de 1968 já tinham sido vendidas mais de 6 milhões de cópias.

Também é a primeira vez que o selo da Apple aparece num disco dos Beatles. Digamos que é o single de estreia da Apple, que perdurou até o final dos anos 1970, lançando os singles, ou músicas solos dos quatro ex-membros da banda.



Meu compacto, orgininalíssimo, de época... aliás, trata-se de um exemplar raríssimo, já que o selo que se popularizou, aqui no Brasil, foi o selo estrela... ESTE É RARO, MESMO!!!


Para falarmos de Hey Jude, no entanto, é necessário que voltemos um pouco na história e falemos também um pouco sobre a vida particular de John Lennon.

Aí está o meu exemplar, com o selo "estrela" da Odeon... também de época...

Como já lhes disse em outras blogagens, John era casado com Cynthia Powell, desde 23 de agosto de 1962, por tê-la engravidado. Conheceram-se na Liverpool College of Art (onde lá estive em 2014!). Dessa relação nasceu o primeiro filho de John, Julian Lennon, em 8 de abril de 1963 (esse povo do dia 8 de abril não é fraco, não!!!).

Foto de 1966, Julian com três anos...





Colégio onde John e Cynthia estudavam, em Liverpool, onde lá estive em 2014.


Apesar de ser uma relação conturbada, com as constantes viagens de John junto com a banda em meio à Beatlemania e, principalmente, no começo da carreira, era, ao mesmo tempo, um relacionamento muito discreto, para a época e por quem se tratava, muito em função mesmo de Brian Epstein, que não gostou muito do casamento, porque ter um Beatle casado poderia afastar parte das fãs, o que realmente não aconteceu. Apesar disso, Brian foi quem pagou o casamento dos dois no Cartório (onde também lá estive!!!) e ainda cedeu seu apartamento para que eles pudessem morar no começo de casados (Trata-se de um lugar no alto de Liverpool, muito bonito, onde também lá estive em 2014...).

1963...


Apartamento que Brian Epstein cedeu à John e Cynthia, quando recém casados, na Hope Steet, em Liverpool... Lugar muito bonito, por sinal...

Cynthia era uma pessoa muito discreta e não se tratava propriamente de uma fã, porque conheceu John bem antes de ele se tornar o que todos conhecemos hoje. Quem quiser saber mais a respeito, dê uma lida no livro que ela escreveu, que se chama “John”.

Imitando os personagens do seriado de TV que John gostava muito, chamado "Goons"...

Bem, o relacionamento dos dois não ia muito bem, principalmente depois que John “descobriu” o LSD e insistia para que Cynthia experimentasse, além, claro, de suas “escapulidas”, aqui e ali.

Ó eu dentro do Philarmonic, naquele 3º dia de viagem a Liverpool, "boteco" este onde John costumava frequentar para comer fish and chips... Adivinhem o que comemos?...

No dia 9 de novembro de 1967 John conhece Yoko Ono, ao visitar a Indica Art Gallery, em Londres. É bom que vocês, que me leem, comecem a se acostumar com John e essa relação com as artes, já que ele era estudante de artes em Liverpool. Então não há nenhuma surpresa em vê-lo visitando uma galeria. A “surpresa” foi ter ficado impressionado com o que viu. Sim, “surpresa”, porque é preciso estar muito, mas muito chapado de LSD para ficar impressionado com o que viu...


1967...

John estava mergulhado num torpor, em meados de 1967, que estava se cansando da vida suburbana que levava junto de Cynthia e Julian. “Good Morning, Good Morning”, de Sgt. Peppers conta um pouco e em parte dessa apatia. Já falamos um pouco disso na nossa blogagem do disco e de como Paul tomou conta, literalmente, do disco e da banda. Deem uma olhadela por lá!



Cynthia e Julian em 1975... Acima, nos anos 2000...

Enfim, quando os Beatles voltaram da Índia John e Paul foram aos Estados Unidos para promover a Apple, mais ou menos no dia 11 maio de 1968, John comunicou a Cynthia que ela não iria com ele para esta viagem.

Um pequeno parênteses para que contemos, também, um pouco da história  particular de Paul, já que isso redunda em muitas canções que ele escreveu antes e depois desse período em que estamos conversando.

Paul tinha uma namorada chamada Jane Asher, uma atriz em começo de carreira no início dos anos 1960. É para ela e inspirada nela que Paul escreveu as mais belas canções dos Bealtes: “All My Loving”. “Yesterday”, “And I Love Her”, só para citar algumas.


Paul, Jane Asher e Julian, em 1967...


No dia 15 de maio de 1967, entretanto, Paul conhece a fotógrafa profissional Linda Eastman, no London’s Bag O’Neils Club. Ele a convida para a festa de lançamento de Sgt. Peppers. Linda faz várias fotos e fica ao lado dele o tempo todo. Enquanto isso, Jane Asher estava nos EUA, em turnê por conta de sua carreira.

Apesar disso, Paul entrega a Jane uma aliança de diamantes, na noite de Natal de 1967, anunciando oficialmente o noivado.

Sede da Prefeitura de Liverpool, onde uma multidão de mais de 500.000 pessoas estavam presentes para saudar os Beatles, em 1963, no retorno deles a Liverpool, depois da fama...

Jane e Cynthia foram à Índia acompanhar os maridos, fato que já descrevi aqui no blog. Então, na volta e na viagem de negócios, Cynthia fica para trás. E Paul acaba se encontrando com Linda, mais uma vez, nos Estados Unidos e recebe dela uma foto ampliada dele abraçado com a filha dela, Healther.

Na volta, porém, a história da maior banda de todos os tempos começa a mudar. E a banda começa a acabar...

John, sozinho em Londres (Cynthia viajou com Julian depois que John a dispensou) convida Yoko Ono para ir a sua casa em Kenwood, no dia 19 de maio de 1968. Eles gravam música experimental no estúdio de John e passam a primeira noite juntos. É o começo do fim.



Cartório, em Liverpool, onde John e Cynthia se casaram..., na Rodney Street...

Ao chegar em casa, dois dias depois, Cynthia descobre que Yoko (que mandava toneladas de cartões postais e cartas para John na Índia, a despeito da presença de Cynthia por lá) estava por lá e decide terminar de vez o casamento com John.

Já Paul estava em Los Angeles, à essa época, para fugir, literalmente, da participação da gravação de “Revolution 9”, que aliás, não se trata de uma música, inventada por John e Yoko, em meio às gravações do Álbum Branco. Linda descobre que ele estava por lá e imediatamente parte de Nova York para se encontrar com ele. Ele fica feliz e os dois vão juntos em uma reunião com altos executivos da Warner e depois ele retorna a Londres.

Aliás, na Premier de Yellow Submarine, onde se encontravam Mick Jagger e Donovan, Paul já estava desacompanhado e a imprensa não deixou de tirar uma “casquinha” de John, perguntando a ele o paradeiro de sua esposa, ao verem Yoko Ono.

No dia 20 de julho, logo após a estreia do filme, é a vez de Jane Asher anunciar o fim de seu noivado com Paul, numa entrevista para a BBC. Ela já havia pego ele em flagrante com uma fã americana com quem ele tinha amizade (Francie Shwartz), alguns dias antes, na casa deles. As fãs, do lado de fora (sim, elas ficavam fazendo “vigília”, tanto na porta da casa deles, quanto em Abbey Road) tentaram avisá-lo da chegada de Jane, mas ele não acreditou. Ela encerrou o noivado ali mesmo.


Cynthia, Jane Asher e Maureen, com os três, em 1967...


Assim chegamos a “Hey Jude”, que começou a ser gravada em 29 de julho de 1968.


LETRA


Quando John e Yoko foram morar juntos em Montagu Square, no centro de Londres (apartamento que era de Ringo e ele cedeu-o à dupla), era de se esperar que, pelo menos, os trâmites do divórcio entre John e Cynthia começassem. Então, como a coisa não se desenrolava, Cynthia e Julian continuaram a morar em Kenwood, no subúrbio.

Com sua capa, original...

Paul sempre teve um bom relacionamento, tanto com Cynthia, quanto com Julian, que, na época, tinha apenas 5 anos. Então, para demonstrar apoio à Cynthia e à Julian, durante o imbróglio da separação de John, ele foi dirigindo de sua casa em St. John’s Wood até Weybridge levando uma única rosa vermelha. Nesse dia, com a incerteza sobre o futuro de Julian em mente, ele começou a cantarolar “Hey Julian” e improvisar uma letra sobre o tema do conforto e da segurança (próprios, aliás, dele). Em algum momento, durante a viagem que leva cerca de uma hora, “Hey Julian” se tornou “Hey Jules”, e Paul criou o trecho “Hey Jules, don’t  make it bad, take a sad song and make it better”. Foi só depois, ao desenvolver a letra, que ele transformou “Jules” em “Jude”, por achar que “Jude” soava mais forte. Ele já tinha gostado do nome “Jud” quando viu o musical “Oklahoma”.

John, Julian e a tia de John, Mimi, em 1967..

A melodia conduziu a letra, o som teve prioridade sobre o significado. Um verso em particular – “the movement you need is on your shoulder” – deveria ser apenas um tapa-buraco. Quando Paul tocou a música para John, comentou que aquela parte precisava ser substituída e que ele parecia estar cantando sobre o seu papagaio. “Esse provavelmente é o melhor verso da música”, disse John. “Deixe aí. Eu sei o que significa.”.

Paul e Julian, em 1967...


JULIAN LENNON

Julian cresceu conhecendo a história por trás de “Hey Jude”, mas só em 1987 ouviu os fatos diretamente de Paul, quando o encontrou em Nova York. “Foi a primeira vez que nós sentamos e conversamos. Ele me contou que vinha pensando na minha situação, todos aqueles anos atrás, no que eu estava passando e pelo que eu ainda teria de passar no futuro. Paul e eu passávamos bastante tempo juntos – mais do que meu pai e eu. Talvez Paul gostasse mais de crianças na época. Tivemos uma grande amizade, e parece haver muito mais fotos daqueles tempos em que estou brincando com Paul do que com meu pai”, conta Julian.



“Eu nunca quis saber realmente a verdade sobre como meu pai era e como ele era comigo”, ele admite. “Mantive minha boca fechada [até hoje]. Muita coisa negativa foi dita sobre mim, como quando ele disse que eu tinha saído de uma garrafa de uísque em um sábado à noite. Coisas assim. É muito difícil lidar com tudo isso. Eu pensava, cadê o amor nisso tudo? Foi muito prejudicial psicologicamente, e por anos isso me afetou. Eu costumava pensar, como ele pode dizer isso sobre o próprio filho?”.


John e Julian, em 1968...


Julian não se atém à letra de “Hey Jude” há algum tempo, mas acha difícil fugir dela. Ele está em um restaurante e a música toca, ou ela surge no rádio do carro quando está dirigindo. “Ela me surpreende toda vez que a escuto. É muito estranho pensar que alguém escreveu uma música sobre você. Ainda me emociona”.


A MÚSICA


Começou a ser gravada, como já disse alhures, em 29 de julho de 1968, tendo sido gravado seis “takes” naquele mesmo dia.

Aqui, também, começa uma grande briga entre dois membros da banda, algo que foi um dos motivos da separação do grupo e que perdurou até o início dos anos 1990, amenizada apenas para o projeto “Anthology”, que, aliás, é nítida a expressão de distanciamento e nesgas de mágoa de George para com Paul.

1967...

Quando Paul começou, no estúdio, a tocar a música no piano, George veio com um riff de guitarra depois de cada frase cantada. Paul não gostou e o advertiu e George, a partir daí, ficou furioso com ele. Claro que era algo como se diz hoje em dia.... “a cereja do bolo”, ou a gota d’água: George estava se cansando de ser um Beatle e de tudo o que isso envolvia, a partir do momento em que conheceu a filosofia hindu. Muito em função também de como suas composições eram sistematicamente rejeitadas por John e Paul, principalmente este último, já que coincidiu sua nova liderança da banda e o aumento de criatividade de George.

"Hey Jude" no programa de TV "The Frost Programme", 8 de setembro de 1968...


Aliás, George foi o primeiro a deixar a banda, no começo das gravações do Álbum Branco, num acesso de raiva que jamais acabou. Era, com certeza, o Beatle mais descontente.

E depois foi Ringo, na gravação de “Back in the USSR”, ao ter suas mãos seguras por Paul, ensinando a ele como devia tocar bateria na música, que deixou a banda, saindo xingando todo mundo. Paul acabou tocando a bateria nesta música.


Noite memorável... há 50 anos...


Ringo estava fora da banda e somente em 5 de setembro de 1968 foi que Paul foi até a casa dele convencê-lo a voltar. Quando Ringo voltou ao estúdio, encontrou sua bateria toda enfeitada de flores.
Na noite seguinte, então, eles continuaram a gravação, trabalhando nos “takes” 7 ao 23 e George não participou, ficando na sala de controle, do lado de fora.

George mudou muito, depois que conheceu o LSD e a cultura indiana... Ficou sério demais, bem longe do desta foto, de 1965....

No dia 31 de julho eles foram ao Trident Studios, aproveitar a mesa de oito canais, novidade na Inglaterra, na época, tendo sido completada em primeiro de agosto, com Paul colocando baixo, voz e mais as vozes dos outros Beatles. Após, uma orquestra foi adicionada, tendo sido os músicos chamados para acompanhar com palmas.

Os Beatles ainda fizeram um vídeo promocional da música no programa “The Frost Programme”, que foi ao ar na Inglaterra no dia 8 de setembro de 1968. É o vídeo que comumente assistimos por aí, no Youtube, em DVD, etc., e que recentemente, por ocasião do lançamento do DVD duplo “One”, foi remasterizado, com áudio muito próximo de excelente.

É o lançamento mais vendido de uma gravação de todos os tempos. Cerca de oito milhões de cópias no mundo todo.






REVOLUTION

O Verão do Amor (junho de 1967) foi seguido pela Primavera da Revolução (Primavera de Praga – 1968); o assassinato de Martin Luther King; e em março de 1968, milhares de pessoas marcharam em frente à Embaixada Americana, em Londres, para protestar contra a guerra do Vietnã. Em maio, tivemos o “maio de 68” em Paris, objeto anterior desse blog. Ao contrário de Mick Jagger, que participou de uma marcha, John assistiu tudo pela televisão, quando Cynthia estava na Grécia (naquela viagem que lhes contei alhures). Ele a começou na Índia e a terminou justamente neste período, fortemente influenciado por tudo à sua volta.

"Revolution", o lado "B" de "Hey Jude"....

Ele queria dizer algo respeito de tudo o que estava acontecendo no mundo, longe da influência (histeria) dos fãs.

Não era a canção de um revolucionário, e sim de alguém pressionado por um meio a declarar sua aliança. É que John era o Beatle mais consciente politicamente e mais esquerdista e alguns grupos achavam que ele devia apoio às suas causas.

A música foi sua resposta a estes grupos, que lhes informava que, apesar de compartilhar com o desejo de mudança social, ele acreditava que a única revolução que valia a pena surgiria da mudança interna de cada um, em vez da violência revolucionária. Entretanto, ele nunca teve certeza de sua real posição e limitou suas apostas na versão lenta da música lançada no Álbum Branco (“Revolution I”).
Depois de admitir que a destruição pode vir com a revolução, ele cantou “you can count me out/in (“Não conte/Você pode contar comigo”), claramente incerto de qual lado seguir. Na versão mais rápida, a do single, ele omitiu a palavra “in”.

"Revolution" sendo executada semi-ao vivo...

Essa omissão causou furor na imprensa alternativa da época. “Um grito de medo lamentável de um burguês mesquinho”, era uma das manchetes. Já a revista “Time” (A “Veja” dos EUA), do “estabilishment”, dedicou um artigo inteiro a respeito da música, dizendo que “criticava ativistas radicais mundo afora.”.

Numa dessas publicações alternativas houve uma troca de farpas entre John e um estudante expoente da época, outro John, mas John Hoyland, que disse: “Essa gravação não é mais revolucionária que Mrs. Dale’s Diary [novela de rádio da BBC da época]. Para mudar o mundo, precisamos entender o que há de errado com ele. E depois, destruí-lo. Impiedosamente. Não é crueldade nem loucura. É uma das formas mais intensas de amor. Porque o que estamos combatendo é o sofrimento, a pressão, a humilhação – o imenso custo da infelicidade causado pelo capitalismo. E todo ‘amor’ que não se oponha a essas coisas é meloso e irrelevante. Não existe uma revolução polida.”.




Em sua resposta, John disse o seguinte: “Não me lembro de ter dito que ‘Revolution’ era revolucionária. Dane-se Mrs. Dale. Ouça as três versões de ‘Revolution’ – 1,2 e 9 – e depois tudo de novo, caro John (Hoyland). Você diz ‘para mudar o mundo, precisamos entender o que há de errado com ele. E, depois, destrui-lo. Impiedosamente’. Você obviamente está em um movimento de destruição. Vou dizer o que há de errado com ele – as pessoas. Então, você quer destruí-las? Impiedosamente? Até que você/nós mude/mudemos a sua /nossa cabeça – não há nenhuma chance. Cite uma revolução bem-sucedida. Que fodeu o comunismo, o cristianismo, o budismo, etc.? Cabeças doentes, e nada mais. Você acha que todos os inimigos usam um distintivo do capitalismo para que você possa atirar neles? É um tanto ingênuo, John. Você parece achar que é só uma luta de classes.”.



Ao ser entrevistado, logo após, por jornalistas da revista, John disse: “Tudo o que estou dizendo é que acho que vocês devem fazer isso mudando a cabeça das pessoas, e eles estão dizendo que devemos destruir o sistema. No entanto, essa coisa de destruição do sistema existe faz tempo. O que ela conseguiu? Os irlandeses fizeram, os russos fizeram, e os franceses fizeram. Aonde isso os levou? A lugar nenhum. É a velha história. Quem vai comandar essa destruição? Quem vai assumir o controle? Vão ser os maiores destruidores. Eles vão chegar primeiro e, como na Rússia, vão assumir o controle. Eu não sei qual é a resposta, mas acho que são as pessoas.”.

É uma posição que John manteria, até a sua morte. Em 1980, em entrevista para a revista “Playboy”, ele disse que “Revolution” é a expressão de sua posição política: “Não contem comigo se for para a violência. Não esperem me ver nas barricadas, a não ser que seja com flores.”.



A GRAVAÇÃO

A música, até então, é a mais “pesada” dos Beatles, sendo superada apenas por “Helter Skelter”, “Yer Blues” e “Birthday” (esta, nem tanto), ambas do mesmo período, que foram inclusas no Álbum Branco.

Eles adicionaram o “fuzzer” diretamente entre na mesa de som e o amplificador da guitarra, com os ponteiros de capitação (VU’s) no máximo.

No dia seguinte, gravaram mais dez “takes”, incluindo palmas e efeitos de bateria, incluindo palmas e efeitos de bateria, bem como mais distorção de guitarras. John adicionou os vocais e o berro introdutório.

Já no dia 11 de julho foram adicionados o baixo de Paul e o piano elétrico tocado por John Hopkins. A gravação foi finalizada somente no dia 13 de julho, com mais linhas de baixo e guitarras tocadas pela dupla Lennon/McCartney.



CLIPE

O clipe que vemos nos VHS’s, DVD’s e Youtubes mundo afora é o mesmo que foi gravado semi ao vivo, também para o programa de David Frost, já citado acima, mas foi ao ar antes de “Hey Jude”, no dia 4 de setembro de 1968.





Eles ainda incorporaram um coro “shoo-be-doo-waah” para essa apresentação, na voz de Paul e George, que é o mesmo coro da “Revolution I” do Álbum Branco.


Muito bem. Terminamos por aqui. Vamos voltar em breve para dar uma pincelada nos 50 anos do LP "Tropicália, ou Panis et Circenses", o manifesto do Tropicalismo, que nos fará entender o que também acontecia por aqui, enquanto os Beatles caminhavam para o seu fim inevitável e o Brasil para o AI-5... Até lá!!!

Ah, aliás, vejam os vídeos que postei, antes que "ALGUÉM" os tire, cobrando direitos autorais... Aquela pessoa "espiritualizada"... de porco...

Vou deixar o por do sol em Liverpool, da janela do hotel onde ficamos, para suavizar e matar a saudade de todos nós...

Muitas e muitas saudades!!!1

Saudações Beatlemaníacas!...