Boa tarde!
Vamos dar uma pausa
em Sgt. Peppers que faz 50 anos neste ano para falarmos do nosso Palestra.
Afinal de contas, nossa casa completa hoje 100 anos de sua primeira partida.
Tomei a liberdade de
transcrever “ipsis litteris” (um pouco de latim neste Palestra Itália!!!) a bela reportagem de O LANCE, que já agradeço de antemão pela
gentileza, razão pela qual o texto vai entre aspas, com exceção de algumas notas minhas, ao final de alguns parágrafos.
O texto foi
organizado em capítulos e, aqui, também o fiz. Neste primeiro, um breve
histórico do primeiro jogo e, nos demais, uma síntese muito bem feita acerca da
história do Estádio Palestra Itália.
Para mim e para a
esmagadora maioria de nossa torcida ele jamais deixará de ser... ESTÁDIO
PALESTRA ITÁLIA. Sempre!
Saudades do nosso
estádio... Deslumbre pelo nosso estádio!!!!
Curtam, aí...
“Cem anos de
história, 1684 jogos no mesmo solo, um chão sagrado para o torcedor alviverde.
Nesta sexta-feira, completa-se um século do primeiro jogo do Palmeiras no
terreno de sua casa amada, onde atualmente está o Allianz Parque. No dia 21 de
abril de 1917, um sábado, o Verdão - ainda como Palestra Itália - atropelou
o Sport Club Internacional-SP por 5 a 1, em jogo válido pela primeira
rodada do Campeonato Paulista daquele ano, no Parque Antarctica. Curiosamente,
o SC Internacional foi, anos depois, incorporado pelo São Paulo.”.
aspecto da arquibancada, em 1905 |
o parque, em 1910 |
outro ângulo, em 1910 |
1921 |
CONTEXTUALIZANDO
O DUELO
“Mandante no jogo, o
Palestra havia sido fundado em 1914, e desde então vinha procurando um campo
com boas condições. Em 1917, surgiu a oportunidade de alugar o campo
do Parque Antarctica . O Parque Antarctica, inaugurado em
1902, com arquibancada de madeira, foi o primeiro estádio no terreno do atual
Allianz Parque.”.
“Já como locatário do Parque Antarctica, que seria
comprado pelo próprio Palestra em 1920, o clube marcou o primeiro jogo do
Campeonato Paulista de 1917 para o local. Era só a segunda vez do Palestra
disputando o Paulista. Fundado por imigrantes italianos, o clube ainda estava
começando a construir sua fama. Em 1916, ficou apenas em sexto entre sete
clubes que disputaram o Paulista organizado pela Associação Paulista de
Esportes Atléticos.”.
“O adversário do Palestra era o tradicional Sport Club
Internacional, fundado em 1899, e um dos seis participantes do primeiro Campeonato
Paulista, em 1902. O clube tinha sido campeão paulista em 1907 (seria também em
1928), mas vinha em momento complicado para o Paulista de 1917. Em 1916, o
Inter-SP tinha terminado o Paulista organizado pela Liga Paulista de
Foot-Ball na péssima 13ª colocação entre 14 clubes. Para 1917, os campeonatos
da Associação Paulista de Esportes Atléticos e da Liga Paulista de
Foot-Ball se unificaram, gerando uma enorme expectativa para aquele novo
Paulistão.”.
UM SHOW DO PALESTRA
“O jogo pelo Paulistão, que era de pontos corridos, foi um
massacre palestrino. O atacante Heitor, que até hoje é o maior artilheiro do
Palmeiras, com 327 gols, marcou quatro naquele dia. Caetano, outro ídolo da
história alviverde, fez um. O Inter só balançou a rede do Palestra uma vez.”.
“A partida acabou em
5 a 1, mas o placar poderia ter sido mais elástico: "Maior não foi a
derrota porque a "eleven" italiana encontrou forte resistência no
heroico defensor do goal, que foi Barreto", destacou relato da revista
"O Pirralho"* de 22 de abril de 1917.”.
* Apesar do nome curioso para os dias de hoje, a
revista semanal "O Pirralho" era uma das publicações mais respeitadas
da cidade de São Paulo na época. A revista foi fundada em 1911 por Oswald
de Andrade, um dos mais importantes introdutores do Modernismo - movimento
cultural que, por sua vez, encontrou seu expoente na Semana de Arte Moderna de
1922.
“No jornal "O
Estado de S. Paulo" de 22 de abril de 1917, o relato da partida também
destacou a superioridade do Palestra Itália e as deficiências do Internacional:
"O domínio do time italiano sobre o seu adversário patenteou-se desde
logo, o que quer dizer que o Internacional precisa fortalecer-se".”.
“Outra curiosidade na crônica do "O Estado de S.
Paulo" é a grafia do nome de Heitor como Ettore. Explica-se: era o nome
completo do atacante, chamado Ettore Marcelino Domingues. Paulistano nascido no
Brás, vindo de família italiana, Ettore virou Heitor com o tempo, pois seu
nome foi sendo "aportuguesado" pelas torcidas.”.
OS RUMOS DEPOIS DA PARTIDA
“O desempenho dos times naquele duelo deu grandes pistas do que viria pela
frente. O Palestra Itália terminou o Paulista de 1917 como vice-campeão, atrás
somente do Paulistano, grande força da época, que faturou o seu quinto título
paulista. Já o SC Internacional acabou em penúltimo, entre nove clubes.”.
“No ano de 1933, em dificuldades financeiras, tendo recebido várias
propostas, o SC Internacional acabou optando por se fundir ao Antarctica
Futebol Clube, dando origem ao Clube Atlético Paulista, que, por sua vez,
fundiu-se ao Clube Atlético Estudantes de São Paulo em 1937, dando origem ao
Estudantes-Paulista, que em 1938 foi incorporado pelo São Paulo Futebol Clube.”.
JOGO
HISTÓRICO ATRÁS DE JOGO HISTÓRICO
“Depois da goleada sobre o SC Internacional, o próximo jogo do Palestra como
mandante seria na terceira rodada, contra um adversário que ele nunca tinha
enfrentado: o Corinthians. Em 6 de maio de 1917, data que fará cem anos daqui a
alguns dias, o Parque Antarctica foi palco do primeiro Dérbi da história.
Deu Palestra, 3 a 0, três gols de Caetano.”.
foto daquela tarde: nossos eternos e maiores fregueses perdiam para nós pela primeira vez, e por goleada: 3X0! |
FICHA
TÉCNICA
PALESTRA ITÁLIA 5 X 1 SC INTERNACIONAL
Campeonato Paulista - 1917
Local: Parque
Antarctica, São Paulo (SP)
Data: 21/04/1917
Público/renda: Desconhecidos
Gols: Heitor (4) e Caetano (1), pelo
Palmeiras. Cruz (1), pelo Internacional
Palestra
Itália: Flosi,
Bianco, Grimaldi, Picagli, Bertolini, Arturo Fabbi, Caetano, Ministro, Heitor,
Orlando e Martinelli. Técnico: Ludovicco Bacchiani.
SC
Internacional: Barreto,
Felix, Zeca, Alimare, Joaquim, Gustavo, Almeida, Rodrigues, Cruz, Janeiro e
Idoeta. Técnico: Desconhecido.
OS
NÚMEROS DO PALMEIRAS NO PARQUE DOS SONHOS
Era
Parque Antarctica-Estádio Palestra Itália (1917-2010)
1610 jogos
1089 vitórias
325 empates
196 derrotas
3771 gols marcados
1520 gols sofridos
Era
Allianz Parque (desde 2014)
74 jogos
49 vitórias
13 empates
12 derrotas
136 gols marcados
59 gols sofridos
A soma
dos cem anos de história
1684 jogos
1138 vitórias
338 empates
208 derrotas
3907 gols marcados
1579 gols sofridos
UM BELO E BREVE
HISTÓRICO DO ESTÁDIO PALESTRA ITÁLIA
“O Palestra Itália
nasceu, em 1914, com o pensamento de ter uma casa. Na ata de fundação há um
trecho: "O clube precisa ter uma casa, não só um campo para jogar, mas uma
casa para abrigar toda a colônia italiana". E conseguimos.”.
“José Ezequiel de Oliveira Filho, pesquisador da história
palmeirense, palestrino de 62 anos, se emociona (sic) ao falar sobre o estádio
alviverde. E, de fato, há muito sentimento na atmosfera do Allianz Parque. Por
baixo das toneladas de aço da arena existem raízes centenárias com a Sociedade
Esportiva Palmeiras. Nesta sexta-feira, 21 de abril, completam-se 100 anos do
primeiro jogo do Verdão no terreno de sua casa amada. Para celebrar a data, o LANCE! preparou uma série de quatro capítulos (um por
dia até sexta) e diversos outros materiais especiais. Neste primeiro episódio,
vamos recordar a compra do Parque Antarctica pelo Palestra, fruto de ação
ousada que mudou para sempre a história do clube.”.
UMA VIAGEM NO TEMPO
“Remontar o passado não é fácil, trata-se de uma história repleta de detalhes.
E o LANCE! contou
com a ajuda de um especialista para isso. A reportagem encontrou-se com o
pesquisador José Ezequiel de Oliveira Filho no Bar Dissidenti, que tem o
Palmeiras como temática e fica praticamente em frente ao Allianz Parque. Entre
pôsteres de ídolos e uma enorme pintura do antigo Estádio Palestra Itália, as
conversas reconstruindo o passado fluíram de forma natural. Ezequiel é, ao
lado de Fernando Razzo Galuppo, autor do livro "Parque dos
Sonhos", lançado em 2016. A obra é uma bíblia da história do Parque
Antarctica. Ezequiel viu seu primeiro jogo no estádio em 1965, aos nove
anos. O Palmeiras goleou o Santos por 5 a 0. Foi a primeira de muitas alegrias
no local.”.
O PARQUE DO
FUTEBOL
“O verde do Palmeiras hoje dá o tom na frente dos bares da
Rua Palestra Itália, antiga Rua Turiassú. Em 1917, no entanto, o verde que
dominava o local era o da natureza. A área abrigava o Parque da Antarctica
desde 1902, e antes era o local da primeira fábrica da empresa. O parque era de
propriedade da Companhia Antarctica Paulista, fundada em 1885. Um ano após
surgir, a empresa inaugurou naquele terreno uma indústria para a fabricação de
gelo e preparação de presuntos. Em 1888, a Antarctica voltou-se para a
fabricação de bebidas e daí em diante o negócio prosperou muito. Em fevereiro
de 1902, a empresa abriu para o público o espaço de 300 mil metros quadrados
onde funcionava a cervejaria, ali construindo um parque com bosques, brinquedos
para as crianças e um restaurante. A cidade tinha poucos parques e o local
rapidamente fez sucesso, apesar de naquele tempo estar em uma região que ainda
era distante do centro. Vale destacar que São Paulo cresceu tanto de lá para
cá, que hoje a área citada faz parte do centro expandido da cidade.”.
“No
Parque Antarctica, entre espaços para piquenique e pistas de atletismo,
foi criado um campo de futebol, esporte que estava sendo jogado em São Paulo
desde 1895 e vinha ganhando cada vez mais força. Ali, naquele gramado
acompanhado por uma arquibancada de madeira, foi disputado o primeiro jogo de
um campeonato no Brasil. No dia 3 de maio de 1902, o Mackenzie College derrotou
o Sport Club Germânia (atual Esporte Clube Pinheiros) por 2 a 1, na abertura do
recém-criado Campeonato Paulista. O Germânia, clube de origem alemã, fez o
primeiro acordo para arrendamento do campo junto à cervejaria, ainda no começo
da década de 1900, e tornou-se mandante no local até 1916, quando diminuiu suas
atividades esportivas por conta da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), tendo
que desfazer o contrato com a Antarctica.”.
“O Parque Antarctica, com sua capacidade para até 15 mil
espectadores (somando arquibancada e outros espaços), era um dos principais
palcos do futebol paulista, e não ficou muito tempo sem um clube. Ainda em
1916, o America Football Club (clube paulista fundado pelo ex-jogador Belfort
Duarte, que tinha esse nome em homenagem ao América-RJ) firmou contrato com a
cervejaria. Porém, após um ano de dificuldades financeiras, o América passou a
sublocar o espaço para outros times. Foi assim que o Palestra Itália e o Parque
Antarctica cruzaram seus destinos. No contrato entre América e Palestra,
firmado em 1917, ficou acertado que o clube de Belfort Duarte usaria a
estrutura às terças, quintas, sábados e domingos, enquanto o Palestra usaria o
local nos mesmos dias, porém na parte da tarde, para treinos e jogos.”.
O LOCAL
PERFEITO
“Ter uma casa própria para que o Palestra Itália se desenvolvesse era um desejo
desde o início do clube. No ano da fundação, 1914, a primeira opção surgiu em
um terreno doado pela prefeitura, a Chácara Vila Clementino, mas a ideia não
avançou. A partir de dezembro de 1914, o Verdão ficou sediado no campo da Rua
Major Maragliano, 54, na Vila Mariana. No entanto, o terreno acidentado do
local dificultava a realização de treinos e jogos - o campo ganhou o apelido de
"barranco" dos palestrinos. Até 1917, o clube avaliou diversas
possibilidades de mudança, inclusive com uma tentativa frustrada de um terreno
às margens do Rio Pinheiros. Nada dava certo... Mas, quando tudo parecia
perdido, veio a crise no América FC e a possibilidade de jogar no Parque
Antarctica, um lugar muito querido pela colônia italiana, que fazia grandes
festas no local.”.
“Assim veio o grande dia: 21 de abril de 1917. Pela primeira rodada do
Campeonato Paulista, o Palestra Itália enfrentou o Internacional-SP
no Parque Antarctica. O rival, fundado em 1899, foi o primeiro a sucumbir
no estádio, mesmo sendo mais antigo. O Palestra goleou impiedosamente por 5 a 1.”.
“A primeira campanha no Parque Antarctica foi empolgante e o fator casa
fez a diferença. O Palestra, que disputava o Campeonato Paulista apenas pela
segunda vez, acabou na segunda colocação, atrás apenas do Paulistano, que
faturou o seu quinto título paulista e era uma potência do futebol na época.”.
“- Nós jogamos como inquilinos em 1917, mas sempre pensando grande, planejando
adquirir o campo. Em pouco tempo, a colônia se movimentou para angariar fundos
pela compra - destacou o pesquisador José Ezequiel.”.
'A
LOUCURA DO SÉCULO'
“O Parque Antarctica tinha se mostrado como o lugar perfeito para o Palestra
crescer. Relatos dizem que, em uma reunião no clube, surgiu um grito geral:
"O Parque Antarctica para o Palestra!". Em julho de 1918, foi organizada
uma Comissão Pró-Estádio, que deu início às conversas com a Companhia
Antarctica Paulista para comprar grande parte do parque. A ideia
alviverde, arrojada, custava um valor altíssimo. A Antarctica pediu 500
contos de reis, uma fortuna. Essa quantia era superior a 30 boas residências na
cidade. - É como se fosse comprar o Parque do Ibirapuera hoje - comparou
Ezequiel.”.
“A conversa avançou, mas além da
quantia, a Antarctica exigiu também que o América FC abrisse mão de seu
contrato de locação. Porém, Belfort Duarte, presidente do América, não
estava em São Paulo. Com uma séria doença pulmonar, ele tinha ido para Itatiaia
(RJ) se recuperar. Em busca do sim de Belfort, o Palestra enviou o
diretor Vasco Stella Farinello para a missão no Rio. Foram 12 horas de
trem e cinco horas a cavalo até o rancho de Belfort. Em troca do acordo,
Farinello prometeu que o Palestra iria ajudar Belfort Duarte a inscrever o
América na APEA (Associação Paulista de Esportes Atléticos), para que o clube
pudesse disputar o Campeonato Paulista. No fim, Farinello voltou exausto para
São Paulo, mas com a notícia que todos os palestrinos desejavam.”.
“Como arrendatário, o Palestra mandou os seus jogos no Parque Antártica até
abril de 1920. Os números provam a superioridade do time no local mesmo antes
de se tornar o proprietário: entre 1917 e abril de 1920, foram 22 jogos, 14
vitórias, quatro empates e só quatro derrotas, com 56 gols feitos e 29
sofridos. Finalmente, em 27 de abril de 1920, era chegado o dia de comprar o
parque.”.
“As condições de parcelamento não
foram muito favoráveis: uma entrada de 250 contos de reis e mais duas
parcelas de 125 contos - uma vencendo em dezembro de 1921 e a outra, em
dezembro de 1922. Quase todo o dinheiro envolvido veio do suor dos torcedores
palestrinos - alguns com poucas posses, outros com muitas. Um nome fundamental
neste processo foi o empresário italiano Francisco Matarazzo. O cheque da
entrada foi assinado pelas Indústrias Matarazzo, que financiaram parte desta
etapa. Posteriormente, o Palestra conseguiu pagar a segunda parcela, mas depois
entrou em crise financeira e novamente recebeu suporte do Conde Matarazzo, que
comprou uma parte do Parque Antarctica (onde hoje fica o Bourbon Shopping) por
187 contos de reis, possibilitando o clube a fazer o pagamento da última
parcela para a Antarctica.”.
“O episódio da compra do terreno, de tão corajoso que foi, ficou popularmente
conhecido como "A Loucura do Século" após ser batizado deste jeito
pelo historiador Gino Restelli, em texto de 1959 que contava detalhes da
aquisição.”.
“- O Palestra cresceu isso aqui na força de sua gente, principalmente dos
anônimos. O (Francisco) Matarazzo teve o seu papel, como grande empresário da
cidade, mas muita gente foi importante. O Palestra vendeu cartelas, passando
pelos sócios, para comprar o Parque Antarctica. Dando um pulo no tempo,
quando o Palmeiras construiu a Academia de Futebol, em 1991, aconteceu
movimentação parecida e eu mesmo comprei seis sacos de cimento. Essa
coletividade é uma característica do clube - disse José Ezequiel.”.
“Finalmente, o sonho do estádio próprio estava realizado em sua plenitude. Mas
o Palmeiras sempre foi um clube de querer cada vez mais... Menotti Falchi,
presidente do Palestra no período da compra do Parque, declarou ainda em
1920, ao jornal "Fanfulla", que o clube já mirava ter um estádio
moderno - o Parque Antarctica tinha só uma arquibancada de madeira e um
barranco era utilizado como arquibancada (com cobrança de ingressos) na lateral
oposta. - Clubes menores possuem um campo. Um estádio moderno é o desejo de
todo palestrino - destacou Menotti Falchi, na declaração ao jornal
"Fanfulla".”.
“Muito mais estava por vir no Parque Antarctica. E não iria demorar...”.
“"O aspecto
atual do estádio já é impressionante. Na entrada, o espectador notará numerosas
bilheterias, 32 ao todo, para um serviço mais rápido e cômodo. Há também quatro
grandes portões de acesso."”.
“Poderia até ser uma descrição do Allianz Parque, mas o texto
acima é de 1933. O relato do jornal "Folha da Manhã" de 9 de agosto
daquele ano mostrava a grandiosidade do estádio que seria inaugurado quatro
dias depois, o Stadium Palestra Itália, o primeiro da capital paulista a ter
arquibancadas de concreto armado. Proprietário do Parque Antarctica desde
1920, o Palestra Itália já alimentava a vontade de ter um campo moderno desde
quando comprou a área da Companhia Antarctica Paulista. Neste segundo episódio
da série "100 anos no Parque dos Sonhos", vamos contar como o parque
virou um caldeirão.”. (grifo nosso)
começam as estruturas em concreto: foto de 1936... |
outro ângulo, da década de 1930... |
“A compra
do Parque Antarctica deu início a uma série de planos que o Palestra
Itália tinha para o local. O pesquisador alviverde José Ezequiel de Oliveira
Filho, que escreveu o livro "Parque dos Sonhos", conta que o
clube foi pioneiro em reservar uma área para a imprensa, isso quando estádio
ainda era modesto:
- A partir
da aquisição do Parque, o Palestra começou a viver uma vida cheia de projetos
para o local, que na época tinha só uma arquibancada de madeira. Em 1922, o
Palestra foi o primeiro clube a criar um setor para a imprensa. Era um
banco-carteira, como de escola, para facilitar as anotações dos jogos. Antes,
os jornalistas ficavam no meio do público nos estádios - falou José
Ezequiel.”. (grifo nosso)
“O clube também queria dar mais conforto para a torcida e
aumentar o estádio. O desejo virou obsessão e, em 1923, e a diretoria do
Palestra organizou um concurso para o desenho do novo estádio que viria. Cinco
concorrentes participaram e o arquiteto italiano Ettore Battisti levou a
melhor, com projeto que misturava uma fachada de ornamentações evocativas
ao universo cultural espanhol e arquibancadas com formato semelhante a
do Circo Máximo, arena de jogos dos tempos do Império Romano. Este projeto
não saiu do papel, por falta de condições financeiras, mas a semente do novo
estádio estava lançada.”.
“As dificuldades nos cofres eram
grandes. Foi aí que, assim como no episódio da compra do Parque
Antarctica, os palestrinos passaram a vender carnês entre si, com o objetivo de
conseguir fundos para a construção do novo estádio. Na força de sua torcida, o
Palestra obteve condições para caminhar com o sonho. Em 4 de setembro de 1928,
em uma assembleia no clube, levantou-se a possibilidade de o clube construir
seu novo estádio no terreno onde hoje fica o Pacaembu ou em um terreno às
margens do Rio Tietê. As duas ideias foram prontamente negadas por
conselheiros. O Palestra Itália deveria seguir crescendo na terra que lutou
para conseguir, e assim foi.”.
“No dia 10 de março de 1929, foi
lançada a pedra fundamental do novo estádio. Em 1933, a sede social do Palestra
foi transferida do 16º andar do Edifício Martinelli para
o Parque Antarctica. E finalmente, em 13 de agosto de 1933, o clube
inaugurou o imponente Stadium Palestra Itália, com capacidade para 30 mil
pessoas. O primeiro estádio da capital paulista a usar concreto armado tinha
arquibancadas deste tipo nos dois lados do campo. Atrás dos gols, foram
colocadas arquibancadas de madeira. Em campo, o Verdão goleou o Bangu por 6
a 0, em jogo pelo Torneio Rio-São Paulo. Vale destacar que o Palestra seria
campeão deste Rio-São Paulo, que foi a primeira edição da história do
torneio.”. (grifo nosso)
“- O estádio de 1933 é, para a época, aquilo que a nova arena significa hoje
para o Palmeiras em termos de vanguarda e transformação - disse José Ezequiel.”.
OS DETALHES DO
ESTÁDIO
“Segundo relatos da época, o Stadium Palestra Itália era
o estádio mais moderno do Brasil nos anos 30. Justifica-se: A arquibancada
social de cimento armado, coberta, foi feita em duas partes. A metade do lado
esquerdo ficou pronta em 33 e o lado direito foi entregue em 36, substituindo
uma arquibancada de madeira (veja como era o estádio em 1936 na ilustração no
início da nota). Sob a metade entregue em 33, foram colocadas diversas
acomodações, como um grande bar para o público, vestiários de equipes
visitantes, de árbitros e dos atletas palestrinos. Tudo isso era novidade na
cidade de São Paulo.”.
PALESTRA ITÁLIA 8 X 0 CORINTHIANS
“O primeiro ano do Stadium Palestra Itália vivenciou
um dos grandes capítulos do Palmeiras. No dia 5 de novembro de 1933, em duelo
pelo Torneio Rio-São Paulo, o Palestra atropelou o Corinthians por 8 a 0,
naquela que é a maior goleada do Dérbi e a pior goleada já sofrida pelo
Corinthians em toda sua história. Romeu Pellicciari fez quatro gols.
Imparato, que era conhecido como o "Trem Blindado", marcou
três. Gabardo também balançou a rede.”. (grifo nosso)
“O primeiro tempo acabou 3 a 0. No segundo, o Palestra deu um
baile e fez mais cinco. Esse jogo gerou uma revolta nunca vista antes na
torcida do Corinthians. Cerca de 500 sócios foram à sede do clube exigir a
demissão de toda diretoria. Vândalos depredaram o local e o presidente Alfredo
Schurig se demitiu (sic).”.
O eterno vexame de nossos maiores fregueses... |
“O estádio foi símbolo
de uma década gloriosa para o Alviverde. No embalo do novo campo, o clube
ganhou o Campeonato Paulista em 1933, 1934 e 1936. Em 1940, o campo acabou
perdendo o posto de mais moderno da cidade para o Pacaembu, inaugurado naquele
ano. Inclusive, o Verdão passou a jogar muito como mandante no Pacaembu nos
anos seguintes. Este período, inclusive, coincidiu com tempos complicados para
o Palestra, que por sua ligação com a Itália, sofreu com os reflexos da Segunda
Guerra Mundial (1939-1945). “. (grifo nosso)
Entre 1933 e 1936... |
Nota: O Palestra Itália e/ou o
Palmeiras (sim, os “dois”!) é também o clube que inaugurou o Pacaembu e é o que
mais levantou títulos ali. Foram 13 títulos lá dentro (os mais importantes,
porque, no total, foram 26!): Tri-Campeão
Brasileiro (1960, 1967 e 1994), Tri-Campeão do Rio-São Paulo (1951, 1965 e
1993) e Campeão Paulista: 1940,1942, 1944, 1950,1959, 1963 e 1972.
Além disso, o Palmeiras também foi o
primeiro clube a levantar um título no Pacaembu, ganhando dos nossos eternos fregueses:
Campeão Paulista de 1940.
“Durante a guerra, em 1942, o governo Getúlio Vargas
instituiu decreto que proibia a qualquer entidade o uso de nomes relacionados
aos países do Eixo (Alemanha, Itália e Japão). O clube sofreu pressões
políticas e, sob pena de perder seu patrimônio, teve que mudar de nome: e assim
surgiu o nome Palmeiras. Porém, neste cenário, era impossível investir mais no
estádio.”.
Nota: a rivalidade com
o São Paulo Futebol Clube data daí, porque este clube, da elite paulistana,
tentou tomar o estádio Palestra Itália do Palmeiras, por conta mesmo da segunda
guerra. E data daí, também o acirramento da ojeriza que a imprensa – não só a esportiva –, em sua esmagadora maioria corinthiana, tem para
com o Palmeiras... Portanto, palmeirenses, a coisa vem de longe...
“- Antes do Pacaembu, o Palestra Itália era o grande estádio.
Ele recebia jogos de diversos times, que pagavam ao Palestra para jogar nele.
Hoje, é difícil mensurar como foram os pagamentos, se com dinheiro ou alguma
troca. Mas com certeza, de alguma forma o Palmeiras recebia por alugar seu
estádio. Depois, com o Pacaembu e a guerra, os investimentos no estádio ficaram
de lado. Com as pressões na guerra, o clube perdeu quase todo patrimônio
- frisou José Ezequiel.”. (grifo nosso)
A HORA DE UMA NOVA TRANSFORMAÇÃO
“Apenas mudanças pontuais foram feitas no Parque Antarctica
até o fim dos anos 50. A iluminação do campo foi posta em 1937. No ano de 1949
foram colocados alambrados, que vieram de uma doação de um conselheiro. Em
1951, o Palmeiras construiu sua piscina olímpica atrás do gol da Avenida
Antarctica e precisou tirar a arquibancada de madeira que ficava ali.”.
“Em 11 de setembro de 1958, a denominação Stadium
Palestra Itália foi trocada por Estádio Palestra Itália. O fato aconteceu
em cerimônia com o presidente da Itália, Giovanni Gronchi.”.
“Também em 1958, o Palmeiras reacendeu o desejo de reformular
sua casa. E ousou mais uma vez. Sob o comando do engenheiro Clovis Felipe
Olga, surgiu o projeto de um estádio inovador, com capacidade para cerca de 70
mil pessoas. A construção teria dois andares, um deles acima de boa parte das
arquibancadas inferiores.”.
“Este projeto não
saiu da maquete por completo, por limitações no orçamento, mas foi a base para
as mudanças que viriam. Aí nasceu a arquibancada em forma de ferradura - que
existe até hoje. Outro legado deste projeto foi o campo, que seria elevado
cerca de três metros em comparação ao nível do solo, formando um fosso ao seu
redor, evitando alagamentos, um problema crônico da região após fortes chuvas.
A este campo, deu-se o nome de Jardim Suspenso. E a era do Jardim Suspenso
reservou grandes emoções à torcida... (grifo nosso)
“A última imagem
do antigo Estádio Palestra Itália para o torcedor começou a nascer em 1962,
depois do fechamento em 21 de abril. O dinheiro arrecadado com a venda de
Chinesinho ao Modena, da Itália, serviu para que o Palmeiras investisse na
remodelação da nova casa. No terceiro episódio da especial 100 anos do
Parque dos Sonhos, vamos detalhar a era do Jardim Suspenso.”. (grifo
nosso)
FIM DE PROBLEMA
“A principal novidade foi a suspensão do gramado em cerca de
três metros. Localizado em uma área sujeita a alagamentos desde o início do
século, o projeto tinha como ideia acabar com o problema. Além disso,
arquibancadas atrás gol onde atualmente é o setor norte do Allianz formavam a
"ferradura".”.
maquetes vencedoras de projetos do estádio: muito parecidas e com o que concretizou... |
O Jardim Suspenso começava a ser erguido... |
“- São dois córregos que passam por aqui. Sempre havia
enchente. Antigamente, era uma várzea. Você tinha o estádio aqui e mais nada.
Só o Tietê lá embaixo - diz o pesquisador palmeirense José Ezequiel de Oliveira
Filho.”.
“A inauguração do Jardim Suspenso aconteceu
em sete de setembro de 1964, uma segunda-feira, contra a Sociedade Esportiva
Guaratinguetá e vitória por 2 a 0 com gols de Ademar Pantera e Rinaldo.”.
(grifo nosso)
O
estádio reformado passou a abrigar o departamento administrativo e de
fisioterapia abaixo do campo. Foi no Jardim Suspenso que as duas Academias
do Palmeiras desfilaram o futebol. Lá também houve o recorde de público em
1976, quando o Verdão venceu o XV de Piracicaba por 1 a 0 e faturou o título
paulista. Foram 40.283 torcedores, número superado somente em novembro do ano
passado, no jogo do título brasileiro contra a Chapecoense, quando o Allianz
Parque recebeu 40.986 pagantes.”. (grifo nosso)
“Após faturar o estadual de 1976, o clube viveu jejum de títulos dentro e fora
do Parque Antarctica. Apesar disso, entre 1986 e 1990 o Verdão ficou invicto
no estádio por 68 partidas consecutivas. É a melhor marca neste cem anos.”. (grifo
nosso)
VOLTA DOS TÍTULOS
“Os títulos voltaram em larga escala a partir de 1993 e a torcida passou a ver
grandes esquadrões em ação no Palestra Itália, mas título em casa novamente
somente em 1996, com a conquista do Campeonato Paulista. Dois anos depois, veio
a Copa Mercosul, aquecimento para o que vinha pela frente em 1999.”.
as mais recentes, antes da total transformação... Saudades... |
“O estádio passou por algumas transformações na década de 1990. O espaço
vazio entre a arquibancada e a numerada descoberta ganhou arquibancada e a
"ferradura" ficou completa. Foi já com o novo formato que o palmeirense
comemorou a Libertadores, dia 16 de junho de 1999, diante do Deportivo Cali.”. (grifo
nosso)
“Na última década do Jardim Suspenso,
algumas reformas pontuais aconteceram como a criação do setor família, pequena
arquibancada levantada ao lado da numerada coberta e também o surgimento do
setor Visa, no centro do campo. Foi com este formato que o Verdão ganhou o
Paulistão de 2008, último título do velho Palestra, e fechou as portas no dia 9
de julho de 2010, no amistoso contra o Boca Juniors.”. (grifo nosso)
Nota: eu e a Marluce estivemos lá,
neste dia...
festa que importamos dos argentinos e depois, muito tempo depois outros começaram a fazer por aqui... |
dia histórico... |
chegamos cedinho!.... |
início do jogo: Palmeiras X Boca Juniors |
"sociais"... |
Ingressos nas mãos, para esse dia histórico! |
antiga entrada do Estádio |
O Jardim Suspenso, neste dia... |
“Longe de casa por
mais de quatro anos, o Palmeiras enfim voltou para o lar dia 19 de novembro de
2014. O Allianz Parque chegou e já teve uma missão ingrata: ajudar o time na
luta contra o rebaixamento. Foram dois jogos sem vitória no fim da temporada,
mas o Verdão ficou na elite. A partir do começo de 2015, tudo mudou... O último
capítulo da série 100 anos no Parque dos Sonhos fala sobre o estádio que hoje
enche de orgulho o torcedor alviverde.”.
“A torcida, cansada
de ser nômade, abraçou a nova casa desde o início. Não à toa, em 74 partidas
disputadas pelo Verdão lá são quase 2,4 milhões de pessoas presentes e média
superior a 30 mil por jogo. A presença da torcida se reflete diretamente no
orçamento do clube. Desde a estreia no Allianz foram arrecadados mais de R$ 104
milhões de renda líquida.”.
“Casa nova, força da arquibancada e
time forte. Os ingredientes começaram a render frutos desde o início e já no
primeiro semestre de 2015 o Verdão chegou à final estadual, algo que não
acontecia de 2008. Mesmo sem o título, o sinal estava dado e se confirmou na
mesma temporada. Contra o próprio Santos, o Verdão faturou a Copa do Brasil nos
pênaltis. Era o primeiro título no Allianz Parque em somente 38 partidas.”.
“A queda precoce na Libertadores do ano passado não desanimou a torcida e o
Campeonato Brasileiro mostrou isso. Sob o comando de Cuca, uma campanha
irreparável no Nacional e conquista do troféu que não era do Palmeiras há mais
de 20 anos. A festa? Novamente em casa depois da vitória sobre a Chapecoense
por 1 a 0 com recorde de público contando Palestra e Allianz: 40.986 pessoas.
Dois títulos em 65 partidas naquela altura e mais festa.”. (grifo nosso)
“- Eramos a única torcida que comemorava o título no clube. Era tradição nos
anos 1960, 1970 quando era campeão os portões eram abertos e os bares embaixo
do estádio serviam cerveja e refrigerante. Passava a noite inteira festejando -
explica o pesquisador palmeirense José Ezequiel de Oliveira Filho sobre a
ligação centenária do estádio com a torcida.”.
um pouco da nova reforma e seu aspecto deslumbrante!!! |
O FUTURO
“A
parceria entre Palmeiras e WTorre é de 30 anos e depois de rusgas e
desentendimentos no ano passado, quando o clube era presidido por Paulo Nobre,
a situação entre as partes amenizou após a entrada de Maurício Galiotte na
presidência.”.
Até
mais, com mais uma conversa sobre Sgt. Peppers, que completa 50 anos em 1º de
junho deste ano...
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