Boa tarde a todos,
Estamos de volta neste
fim de ano para conversarmos sobre os 50 danos do Chevrolet Opala.
Primeira peça promocional do Opala, 1968/1969... |
Oficialmente lançado no
VI Salão do Automóvel de São Paulo, no Anhembi, que ocorreu durante 19 de
novembro a 8 de dezembro de 1968, o Opala foi (e ainda é), sem sombra de
dúvida, o carro “dos sonhos” de muitos, mas muitos brasileiros. E foi o meu
carro dos sonhos da minha infância, também!
Não sou um entusiasta de
automóveis. Mas o Opala mexeu comigo desde pequeno, quando, pela primeira vez,
pude ver um bem de pertinho, um Comodoro 1978, que era de propriedade de uma
amiga de minha irmã.
Linha 1971... |
Gran Luxo, em 1971, no seu lançamento... |
Um belo dia, deste mesmo
ano de 1978, portanto, há 40 anos, ela apareceu no portão de minha vila, para
buscar minha irmã para irem ao fã clube dos Beatles.
Linha SS, 1971... |
Linha 1973... |
E eu, claro, falou-se em
Beatles, estava lá e, também, claro, para ver o Opala champagne (sim, as cores
da GM sempre foram maravilhosas!)...
Linha 1974... |
Linha 1975... |
Linha Chateau, 1978, todo vinho... |
Sem contar que, quando
não tínhamos o que fazer, ou quando o vento estava parado (não dava para
empinar quadrado), ficávamos na porta de minha vila, olhando a Av. Cabuçu
(hoje, a Av. Dr. Antonio Maria de Laet, a mesma da estação Tucuruvi, do Metrô)
e ficávamos brincando de “escolher carros”. Explico: Ganhava aquele que
escolhesse o carro que passasse mais vezes, pela nossa visão. Só não valia
escolher o Fusca, já que passava demais!!! Eu, claro, sempre escolhia o
Opala!!!
Linha Diplomata 1980... |
Então, minha paixão por
este carro vem de longa data. Não é “modinha” de hoje, não.
Comprei meu primeiro
Opala no ano de 2001, com o dinheiro que minha mãe guardou e/ou aplicou para
cada filho dela, pensando que desse para comprar uma casa para cada um!!!
Com o seu desencarne, e o
meu “desencane”, achei um anúncio no antigo jornal de anúncios “Primeiramão” e
fui ver o carro, que se encontrava na estação Santa Cecília do Metrô...
Tratava-se de um Comodoro
1979/1980, que estava em razoável estado... Fomos eu e meu irmão Anselmo até lá
negociar e (claro!) buscar o Opalão...
Meu primeiro Opala, Comodoro 79/80... |
Fechado o negócio, pedi
ao antigo proprietário que o trouxesse até o Tucuruvi, bairro onde morei durante
40 anos, de tanto medo e ansiedade que
tinha para dar “a primeira volta”.
Chegado em casa, não tive
tempo de curti-lo, já que tive de voltar ao trabalho e, como se tratava de uma
terça-feira, tive de esperar longos três dias para, finalmente, dar o primeiro
rolê...
Bem, nem tenho palavras
para descrever o momento em que o liguei e o tirei da garagem...
Tive muitas alegrias com
este Opala... Quando eu o comprei, a sua pintura tinha os chamados “pés de
galinha”, umas rachaduras na pintura que aparecem por conta de vernizes de
baixa qualidade utilizados na finalização da pintura.
Não tive dúvidas: mandei
tirar toda a pintura do carro, para começar do “zero”, da lata... e ele ficou
sensacional!!!
Tinha câmbio automático
de três velocidades, direção hidráulica, ar condicionado...
Fiquei com ele até o
começo do ano de 2005, quando, um pouco antes, resolvi investir no meu sonho
completo: ir atrás de um modelo dos anos 1970, mas dos primeiros modelos... um
Gran Luxo.
Ói, nóis, aí, esperando para mais uma aventura!!! |
Esta foto é na AABB, na Serra da Cantareira, em 2010... |
Eu tinha preferência por
este modelo, por se tratar de um modelo topo de linha da época (o Gran Luxo foi
produzido de 1971 a 1974, depois deu lugar, no topo da linha, ao Comodoro, que,
por sua vez, deu lugar ao Diplomata, em 1980).
Fotos no Centro Cultural, antigo local de trabalho. |
À esta época, eu
trabalhava no Museu Histórico de Guarulhos e, ao lado mesmo deste museu há uma
biblioteca pública, onde, entre umas escapadas e outras, eu dava uma olhadela
na “internet”, para ver alguns modelos à disposição.
Num destes dias, eu vi um
Gran Luxo, 1971, na cor topázio dourado, todo judiado (por fora e por dentro),
mas que valia a pena ir ver por conta do alto índice de originalidade, de
frisos, etc... o problema é que ele estava a 450 km de São Paulo, mais
precisamente na cidade de Matão.
Motorzinho é coisa de dentista!!!! |
Fomos, eu e meu irmão
Agnaldo, até Matão, de ônibus, para ver o carro. Nem preciso dizer que me
apaixonei logo por ele e que fechamos negócio imediatamente. Isto numa
terça-feira.
Marcamos, então, para
quinta-feira, para eu ir buscá-lo. E fomos, eu e meu irmão, com uma maleta
enorme de ferramentas nas mãos!!!
Estava um calor
causticante (e hoje sei que faz muito calor aqui no interior!). Chegamos por
volta do meio-dia e a mãe do rapaz, antigo proprietário dele, fez-nos almoçar
em sua casa.
Barriga cheia e mente
cheia de emoções, caímos na estrada. Mas havia um problema, que a maleta do meu
irmão nada poderia ou pode fazer: os pneus, extremamente
carecas.
De fato, o fato de eu
estar encarnado nestes dias e escrevendo a vocês é porque devo estar, mesmo!
Numa dessas estradinhas vicinais, que liga uma pequena cidade a outra, ou uma
grande rodovia outra, fui fazer uma ultrapassagem de um caminhão e acelerei o
Opala... quando faltavam ainda três eixos do caminhão a serem ultrapassados, o
pneu traseiro esquerdo estoura e o Opala começa a jogar a traseira, para um
lado e para outro.
Charme, requinte e sofisticação!!! |
Quem tem Opala sabe o
quanto a traseira dele é leve... e com o pneu estourado, então...
Meu irmão, que tem pele
morena, ficou branco. Mas, com muita calma, contornei a situação e encostei o
carro no matinho, ao lado da estrada (não tinha acostamento). Por sorte (sempre
ela e meus Opalas!!!), não mais que dez metros à frente, encontrei uma
borracharia e substitui o pneu estourado por outro, tão meia boca quanto
aquele!!! E prosseguimos viagem!
Lindíssimo, por dentro e por fora!!! |
Demos uma parada num
posto de gasolina, perto de Jundiaí, para darmos um tempinho para o motor, e
seguimos, rumo a São Paulo.
Ao chegarmos na marginal
tietê, no entanto, quase chegando à saída da ponte da Vila Maria (eu ia deixar
meu irmão em casa, antes de seguir para o Tucuruvi), a gasolina acaba, no meio
do congestionamento! O ponteiro de gasolina não marcava... Depois, tive de
trocar a boia do tanque... Deu o que fazer, para arrumá-la... Comprei uma boia
usada lá no sambódromo, no encontro de carros antigos que é realizado todas as
terças-feiras à noite (R$ 250,00 à época, uma fortuna!). O Opala ficou seis
meses e meio parado na Oficina, esperando a boia!
Bem, o que fazer? Saímos
do carro e o empurramos (a sorte é que eu estava na pista local!) até um posto
de gasolina próximo (sempre a sorte!!!) e prosseguimos viagem!!!
Era o dia 20 de julho de
2005. Finalmente um Gran Luxo entrava na minha vila!!!
Este eu esperei apenas um
dia para curti-lo melhor, já que se tratava de uma quinta-feira!
Comecei também todo um
processo de restauro geral, porque ele merecia, e troquei quase tudo nele:
freios, suspensão, pneus, amortecedores, tapeçaria... O único lugar em que não
mexi foi no motor. O resto...
Participou ele de quatro
casamentos: o primeiro foi o de minha prima, e viajamos de São Paulo até
Pirassununga, para fazermos uma festinha por lá. Estava eu, meu irmão Agnaldo,
junto com sua ex- esposa e seus filhos.
Enchemos o porta malas e
o tanque e... pé na estrada!!!!
Paramos a cidade!!!
O próximo casamento foi o
meu, na Serra da Cantareira, quando subimos a Serra com Opalão e minha esposa
“entrou na igreja” (não casamos em uma, pois somos espíritas) de Opala!!!
Dia memorável, com nosso Opala participando... |
O terceiro casamento foi
novamente em Pirassununga, de meu primo, ocasião em que também levei a noiva da
igreja até o buffet.
Já no quarto casamento
foi uma verdadeira epopeia, já que o casamento de uma das minhas irmãs foi
realizado num sítio (que até hoje não sei bem onde fica), perto do início da
rodovia Anchietta. O Opala ficou absolutamente cheio de barro (e nós, também!),
mas a noiva chegou “inteira”!!!
Um passeio em Pirassununga, no Casamento do Gino... |
Foram muitas (fortes)
emoções vividas com meu topázio dourado. Uma delas aconteceu no casamento de
minha prima, no primeiro. Na volta, estávamos quase chegando a Jundiaí (de
novo!) e, ao parar o carro no pedágio, o motor superaqueceu. Saí do pedágio e
“joguei” o carro no acostamento (desta vez meu irmão não estava de maleta de
ferramentas.... também não ia adiantar...).
Abri o capô e a água (ou
o que restou dela) subiu... Sorte, novamente, porque estávamos perto do pedágio
e, dali, chamamos o socorro... Veio um guincho, que nos levou (na plataforma)
até um posto de gasolina mais próximo, para fazermos o reparo.
Aí, dá pra imaginar: uma
ex - cunhada chata com duas crianças alegres e um irmão preocupado: a criançada
curtiu pra caramba o caminho na plataforma, mas a ex – cunhada começou a ligar
para Deus e o mundo para avisar (de quê?) à família do nosso “infortúnio” (do
dela, só se for porque, como ela era muquirana, não aguentou quando meu irmão
pagou a gasolina de volta e fez “bico”, andando de Opala de mau humor)...
Estávamos de Opala, meu
amigo, e colocamos um aditivo (que mais parecia ovo) e algumas bananas no
radiador e... Pronto! “novinho” para voltar pra casa!!!
Quando cheguei em casa,
desliguei o motor e.... água para todo lado!!! No dia seguinte, mandei trocar o
radiador!!!
Só deu problema pelo meu
excesso de zelo, porque, quando o restaurei, os mecânicos lavaram o sistema de
arrefecimento dele e limparam (literalmente) o radiador. Acabaram por tirar os
pequenos pontos de crosta de ferrugem que ainda “seguravam” a onda...
O tempo passou.... Muita
sorte daqui, um improviso de lá (mas nunca, nunca me deixou na mão) e
aprofundei ainda mais o meu sonho: ter um Gran Luxo, na cor vinho, do ano em
que nasci: 1974.
Lindo Gran Luxo vinho, 1974... |
Mas não desanimei e fiz
contato com o proprietário por telefone (não havia whatsapp) e decidimos, eu e
minha esposa, viajar até o Rio de Janeiro para ver o carro (e comprá-lo).
Na época meu outro irmão,
o Amarildo, estava morando em Niterói, por conta de contingências profissionais
dele e de minha cunhada. Foi a “mão na roda”. Fomos até o Rio, ou melhor, até
Niterói e marcamos para ver o carro, que se encontrava no bairro da Pavuna, no
Rio.
Chegamos lá e realmente,
o carro dos meus sonhos ali estava: Gran Luxo vinho, ano 1974.
Negociações daqui e dali
e finalmente comprei-o.
Este demorou para vir
para casa, porque havia o aniversário de um ano do filho de minha prima de
Pirassununga no calendário (começo de novembro de 2011) e meu irmão viria para
este aniversário. Então combinamos de eu ir até o Niterói para pegar o carro e
vir com ele para São Paulo. Como nós compramos o Opala em outubro, ele ficou
quase um mês no Rio, esperando para eu ir buscar...
Nem preciso dizer a
emoção de dirigir um Opala, de Niterói até São Paulo... Ainda mais no carro dos
meus sonhos... 140, 150, 160 km/h.... e nem senti a estrada, apenas no bolso,
tendo que parar pelo menos duas vezes para reabastecer!!!
Mais um passeio em Pirassununga, na casa da minha tia... |
A única coisa que não deu
certo foi que minha esposa não estava comigo, pois estava trabalhando...
Chegamos em São Paulo e
deixei, mais uma vez, o Opala na garagem da casa do meu irmão, porque na minha
não cabia os dois Opalas... Ainda não sabia onde eu o deixaria e ele ficou um
bom tempo por lá (Santana, Imirim, Santa Terezinha, acho que é num desses
bairros que meu irmão mora).
Passado algum tempo,
arrumei uma garagem para ele – a do Amauri. Enquanto isso, fui tentando vender
o topázio, como o fiz, infelizmente, para então somente ficar com o vinho.
E ele veio comigo embora
aqui para o interior, com o porta malas carregando parte da minha aparelhagem
de som e discos.
Aliás, o dia em que fui
conhecer meu novo local de trabalho, no Fórum de Leme, fui com ele e, claro,
todos de lá não deixaram de comentar sobre o “novo funcionário e seu Opala
placas pretas”.
Na época eu ainda morava
em Pirassununga e também, no meu primeiro dia de trabalho no Fórum, fui de
Opalão!!!
Mas realmente não ia dar
para ir trabalhar de Opala todos os dias, pois eu teria de virar sócio da Shell
ou da Petrobrás!!!
Foto de quando ele estava no Rio de Janeiro, com o outro dono... |
Meu último Opala, um
Comodoro, 1986/1987 foi, talvez, o mais judiado (por mim) de todos. Não que eu
o “destruísse”, mas por não ter feito absolutamente nada de relevante para
deixá-lo como ele merecia.
Lindo Comodoro, 1986/87... |
Numa tarde de domingo,
meio chuvosa aqui em Santa Cruz da Conceição, estava eu observando os Opalas na
“internet” e acabei vendo o Comodoro, bem pertinho de mim, em Pirassununga. Não
vacilei e entrei em contato com o proprietário e, em meia hora, estávamos em
Pirassununga para ver o Comodoro.
Este eu comprei para ser
meu carro de trabalho, mesmo: meu primeiro Opala 4 cilindros, motor a álcool,
direção hidráulica, rodas ralinho, vidros e porta malas elétricos, etc.
Meu primeiro motor 4 cilindros... Os outros três eram 6 cilindros... |
As famosas rodas ralinhos, item de série no Comodoro 1986... |
Mas as necessidades de se
ter um carro para trabalhar – 22 km, ida e volta do trabalho, todos os dias – e
a falta efetiva de peças e de bons mecânicos para mexerem nele fizeram com que
eu o vendesse, também.
Carro bem conservado, tudo funcionando perfeitamente... |
Belo painel, que à noite fica iluminado de verde, claro!!! |
Mas, apesar de ter ficado
menos de ano com ele, trouxe-me boas recordações...
Nesses tempos difíceis de
encontrar peças, acessórios, bons mecânicos e bons eletricistas aqui no
interior, abandonei de vez os meus projetos de Opalas. Além dos preços altos de
carros, na inversa proporção da qualidade: muito lixo, para muito dinheiro.
E você? Qual é o seu
sonho de vida, digamos, material? Você já o(s) realizou?
Para sempre, Opala...
Para sempre!!!!
PS: Íamos escrever sobre
os 50 anos do Ato Institucional nº 5, de 13 de dezembro de 1968, mas, como isso
nos traz péssimas lembranças resolvemos apenas pontuar no sentido de que,
aqueles que não viveram sob uma ditadura (e eu minha família vivemos) jamais
sequer pensem em querer viver sob uma, jamais idolatrem ditadores, jamais façam
apologias nesse sentido e muito menos de quem as defendem, sob qualquer
pretexto.
Estivéssemos nós, nos
dias de hoje debaixo do AI-5 com certeza estaria eu aqui escrevendo receita de
bolo para vocês lerem.
A grande noite de terror
do dia 13 de dezembro de 1968, com cassações, prisões, banimentos e claro,
torturas, é fato para não esquecermos, para que não se repita, sob nenhuma
hipótese.
Muita, mas muita gente
arriscou e deu a própria vida para que tivéssemos a liberdade (ainda que tacanha)
que temos hoje.
Muita, mas muita gente
pegou em armas para lutar contra a repressão, pois não havia canais de diálogo e
participação política no país; não havia chance de quem era contra a ditadura
levar uma vida normal, como os outros, com emprego, estudo, etc.;
Muita, mas muita gente
foi torturada e morreu sob tortura - e já tinha sido, anterior ao AI-5; outras,
sofrem as sequelas das torturas vividas nos porões da ditadura (porões, na sua
maioria, mas também havia muita tortura a céu aberto), para nos dar a liberdade
e a democracia.
Muitas, mas muitas
famílias não sabem aonde estão seus familiares, porque a ditadura fazia os
desaparecer - torturava, matava e sumia com os corpos. Não tiveram sequer o
direito sagrado de velar seus familiares.
Muitos, mas muitos também
que sofreram as torturas e/ou foram mortos não tinham nada a ver com o que
estava acontecendo. Nem sequer sabiam o que estava acontecendo; nem sequer
tiveram um julgamento.
O passado é uma lição
para se meditar, e não para se repetir, já se disse. Porque nosso passado é
sempre manchado dessa maneira, pois estamos em evolução espiritual.
Voltar ao passado é
retrogradar na evolução. Idolatrar torturadores, ditadores, ou quem faz
apologia a estes tais é ser como eles; é descer ao nível deles; é defender a
tortura e a ditadura, e isso não é humano, para dizer o mínimo. É sinal
inconteste de baixeza espiritual.
Bem, vamos parando por
aqui, neste ano de 2018, e esperamos estar de volta em janeiro de 2019, para
comemorarmos os 50 anos do show no telhado...
Já viram uma banda de
rock subir em cima de um telhado e tocar, bem no centro de Londres, e tocar
para todos ouvirem? Bem, esta banda existiu... este show, também...
Que Jesus continue
a iluminar a todos vocês! Um ótimo 2019 para todos nós, cheio de realizações
espirituais!!!
Saudações beatlemaníacas
e Decacampeoníssimas!!!!