sábado, 26 de agosto de 2017

HÁ 50 ANOS, AS MOSCAS NÃO POUSAM EM SYD BARRETT! NEM NO PINK FLOYD!

Boa tarde,


Voltamos nesta tarde de sábado - aniversário da Sociedade Esportiva Palmeiras - 103 anos! - , após um breve passeio e descanso aqui na represa de Santa Cruz da Conceição – SP, onde moro, para falarmos dos 50 anos de THE PIPER AT THE GATES OF DAWN, o maior disco psicodélico da história e, sem dúvida nenhuma, um dos maiores da história do rock.

É simplesmente, para mim, o terceiro maior, ficando atrás apenas de Sgt. Pepper’s e Dark Side of the Moon.

Para vocês que leem meu blog e pouco estão familiarizados com história de bandas de rock etc., vamos conversar um pouco sobre o Pink Floyd, minha segunda banda, ou a primeira, já que os Beatles são "hors concours"...

Uma das primeiras fotos da banda, já sem Bob Klose... 1966...

Todo mundo já ouviu alguma música desta banda formada em Cambridge, cidade conhecida por sua referência universitária, que fica ao leste da Inglaterra. E foi nessa Universidade, de Cambridge, que os rapazes – Syd Barrett, Roger Waters, Nick Mason, Richard Wright e Bob Klose  - reuniram-se para formar uma banda de rythm’ blues, no ano de 1965.

Não vou alongar-me muito nestas considerações porque basta um “clic” e vocês poderão ter farto material de qualidade a respeito (e, claro, em se tratando de "internet", muita asneira, também). Mas o fato é que o Pink Floyd não é só "de ual", "uixi uar rir" e "monei", como se diz e pensa-se ouvir por aí... Aliás, se as pessoas se dessem  mesmo ao "trabalho" para ouvir esse disco na íntegra, com certeza teriam muitos exemplares para serem vendidos a troco de banana mundo afora...

Apenas uma leve introdução, para que possamos entender porque o Pink Floyd é a maior banda psicodélica da história e uma das principais precursoras do rock progressivo, que é também minha vertente do rock favorita. Entender como eles inventaram o rock psicodélico (e a própria expressão, para definir aquilo que faziam, antes da gravação do LP), e, como, também, desaguaram no rock progressivo, que é a consequência natural deste tipo de som.

Ah, e repito: o Pink Floyd não é banda de heavy metal e não é banda tipo "Led Zeppelin" e "Black Sabbath". O Pink Floyd é uma banda de rock progressivo. Não tem absolutamente nada a ver com "usar preto", etc.

Disse-lhes que o Pink Floyd surgiu em 1965. E com um cara “estranho”, ali: Bob Klose. Trata-se do primeiro guitarrista da banda e a peça que lhe dava um toque de blues. A saída dele deve-se ao fato de a banda caminhar o seu som para longe do blues – que não faziam muito bem – e seguir em frente nas experimentações ao vivo que vinham fazendo, porque havia outras bandas que eram melhores fazendo aquele tipo de música na Inglaterra, principalmente os Rolling Stones, por exemplo, e claro, o Cream. Ao assistirem a um show do Cream, na primavera de 1966 (outono, para nós), chegaram a conclusão que não iam a lugar nenhum fazendo este tipo de som.

esta é de 1965, com Bob Klose (o primeiro, da esq. para direit) quando o Pink Floyd ainda nem se chamava "Pink Floyd"... "Sigma 6"...

Então, com a saída de Klose, no começo de 1966, o Pink Floyd – nome de dois bluesman’s norte-americanos de que Syd Barrett era fã: Pink Anderson e Floyd Cuncil – estava pronto para assombrar o “underground” londrino com seu show de som, luzes e fúria.

Vale lembrar que, em 1966, a Inglaterra estava eufórica e Londres fervilhava, principalmente no verão, com a conquista da Copa do Mundo. E fervilhava também em seu “underground”, nos clubes londrinos, onde a experimentação estava na ordem do dia. Deem uma olhadela em minhas outras postagens, que falam sobre Pepper’s.

A banda “do momento”, naquele espaço – e no espaço sideral!!! – era o Pink Floyd, meu irmão!!!

O Pink Floyd era essencialmente uma banda de shows noturnos, que tocava em clubes de Londres e começaram a ser notados, fora disso, por Paul McCartney, como eu já havia dito das postagens anteriores. Remeto-lhes novamente à leitura de Pepper’s (sim, para entender Pepper’s, precisamos entender o Pink Floyd, e não o contrário!).

Eles não tinham grandes pretensões comerciais, fruto da mente extraordinária de seu fundador: Roger Keith Barrett, ou Syd Barrett, um dos maiores gênios da história do rock. É com Syd e por Syd que o Pink Floyd se formou e constituiu-se na maior banda psicodélica da história. E, claro, uma das maiores do mundo.

foto também de 1966.

Passo agora a transcrever alguns trechos do livro de Clinton Heylin, “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band – Um ano na vida dos Beatles e amigos”, para que possamos partilhar um pouco de tudo isso. Recomendo a todos a leitura deste livro, porque, o autor consegue abordar todo o universo, dentro de um ano, das principais bandas e músicos que são os pilares de tudo o que o rock fez, a partir da segunda metade dos anos 1960 até os dias de hoje. Não é possível entender os caminhos que tomou o rock e entender as bandas e os músicos que lhes sucederam sem conhecer e estudar o contexto sob o qual essas bandas e músicos surgiram.

Vocês não conseguiriam entender o Led Zeppelin, o Deep Purple, o Black Sabbath, o Uriah Heep ("quarteto de ferro inglês"), Queen, Rolling Stones... as bandas de Seattle do início dos anos 1990, o Punk, o pós-Punk, o eletrônico, o gótico, o metal... Metallica, Motorhead e suas variantes... as bandas americanas, tipo Kiss, Aerosmith, Tears for Fears... as bandas australianas, tipo AC/DC, INXS, Midnight Oil... as alemãs, tipo Scorpions... as bandas dos terríveis e comerciais/decadentes anos 1980 (com raras, mas raras exceções)... só para citar as mais conhecidas... 

Sem nos esquecer, é claro, dos músicos do rock... Elton John... Alice Cooper... David Bowie...

O rock é tal como conhecemos, por ter existido a segunda metade dos anos 1960, numa certa cidade famosa, fria, cinzenta, que chove a qualquer hora do dia, que venta pra dedéu, conservadora, maluca, arrojada, atemporal, progressista, punk, histórica, moderna, antiga... Em um país que no deu as melhores bandas de rock de todos os tempos!!!!

Vou colocar as citações em azul, para melhor identificarmos a narrativa de Clinton Heylin: Curtam a viagem psicodélica por parte da história do rock!!!

Em dezembro de 1966, o circuito de shows estava pronto para a ‘grande virada’. Clubes dedicados a um determinado tipo de banda pop, com longos shows começando na madrugada, desafiavam estabelecimentos já testados e aprovados. O resultado, em mais de uma ocasião, era uma noite como a que June Bolan descreveu para Jonathon Green: ‘Eram três shows por noite: um no clube chamado Rikki-Tik, em Windsor, e outro no Rikki Tik, em Hounslow, e o terceiro, às duas da madrugada, era no UFO, em Tottenham Court Road’. A banda em questão era The Pink Floyd [ainda com o “The”], que no começo de 1967, estava na mais difícil das cordas bambas: manter seu status underground alcançado a duras penas e, ao mesmo tempo, empolgar o público pop. O Pink Floyd, segundo Miles [vide minhas blogagens], ‘era exatamente do que (Paul e eu) falávamos’.


Foi no inverno de 1966 que um novo empreendimento, num local conhecido no Soho, deu início ao esquema. Num domingo preguiçoso de janeiro, no Marquee [outro clube londrino, em que o Pink Floyd era a atração principal, na época], algo psicodélico começava a dar os primeiros passos. E uma daquelas conexões underground de Londre – Nova York foi responsável pelas primeiras reverberações [vide, também, minhas blogagens de Revolver e Pepper’s]. Steve Stollman se mudou de Nova York para Londres no final de 1965 e passou a exercer a função de caça-talentos para a ESP, de seu irmão Bernard, a mesma gravadora de jazz que acabara de fechar com os Fugs o que o líder do grupo Tuli Kupferberg chamou de ‘um contrato estranho e aprisionante [...] com uma das piores porcentagens [royalites] da história da civilização ocidental’. Por conhecer muito pouco da cena londrina, Stollman elaborou um plano para que o underground local fosse até ele:

Miles: a ideia [do Steve] foi, em vez de correr atrás [das bandas underground] e espera-las aparecer, para que ele as contratasse [para a ESP]... [E apareceu] The Pink Floyd Sound – estava escrito assim no amplificador, e alguém projetava neles um filme feito por um paraplégico numa cadeira de rodas indo a toda velocidade por Londres. Eles gostavam bastante desse efeito. Eles mandaram bem... Ainda tocavam [rythm & blues] [...] Eles começavam a tocar, faziam introduções bem rápidas e então vinha uma longa improvisação psicodélica até que, de algum jeito, eles voltavam aos acordes. E aí entrava mais algum clássico de r & b. Era bem bizarro... Acho que foi na mesma noite em que tocou o AMM. Syd observou atentamente o que [o guitarrista] Keith Rowe tocou, e criou seu estilo de guitarra a partir disso.

Para infelicidade da gravadora de seu irmão, Steve não sabia bem o que procurar. Embora tudo indique que o Floyd tenha tocado em todos os Sunday Spontaneous Happenings (inclusive o primeiro, batizado de Giant Mystery Happening, em 30 de janeiro) – claramente inspirados em ‘happenings’ semelhantes de Nova York, apesar de isso implicar que ele tinha de alugar uma tarde inteira no Marquee – a banda não foi contratada pela ESP.

Durante o inverno e a primavera [de 1966], o Floyd desfrutou da oportunidade de fazer apresentações quinzenais no mundialmente famoso Marquee, já que Stollman levou sua experiência adiante até o começo de junho. Naquele que foi o último Spontaneous Happening, ou show particular não documentado, Peter Jenner [futuro empresário do Pink Floyd], um professor iniciante da London School of Economics, vizinho do deus da guitarra Eric Clapton, concedeu-se uma pausa nas correções de provas e foi curtir um ‘show louco no Marquee, organizado por gente como Steve Stollman e Hoppy’ em busca de uma tarde de atonalidade. O que viu marcou o fim de sua carreira acadêmica. Era mais um jovem brilhante empreendedor cheio de energia e apaixonado pelo potencial pop que jogava tudo para o alto e apostava pesado numa banda iniciante:

hippies ingleses esperam ansiosamente o Marquee abrir para ver o Pink Floyd!!!

Peter Jenner: Eu tinha um pé atrás com as bandas de blues inglesas – de certa forma, talvez tenha sido por isso que o Floyd me atraiu, já que, embora tocassem os velhos blues banais de sempre, o que eles faziam no meio era [...] diferente... Eles faziam passagens bem estranhas, tão estranhas que eu nem distinguia de qual instrumento vinha o som. Era bem bizarro e era exatamente o que eu procurava – um grupo pop bem diferente, eletrônico, muito louco.

cartaz psicodélico de uma das apresentações do Floyd no Marquee em 1966...

Em 30 de setembro de 1966, o Floyd (ainda com o nome The Pink Floyd Sound) retornou suas explorações no All Saints Hall, em Notting Hill Gate, onde participou de um ‘baile comemorativo’, provavelmente para aa London Free School, que acabara de instalar a sua sede ali. Depois do baile, Jenner convenceu a diretoria da escola – ou seja, John ‘Hoppy’ Hopkins – a tornar o evento fixo. O retorno da banda, quinze dias mais tarde, deu início à apresentações semanais, que se estenderiam até o final de novembro [de 1966]. A essa altura, o Floyd era a vanguarda da psicodelia britânica. Nesse ínterim, o grupo fez a primeira gravação de ‘Interstelar Overdrive’, com quinze minutos de duração, o paradigma de suas explorações psicodélicas, que serviria de trilha sonora para um curta-metragem underground, ‘San Francisco’ (embora jamais tenha ficado claro se a gravação foi feita com esse propósito).

Para Barrett, foi um verão de inspiração cristalina [de 1966]. Quando o Floyd fez o seu segundo show na London Free School, em 14 de outubro, véspera de sua estréia no Roundhouse [outro clube londrino famosíssimo, na época], o repertório era quase todo de composições originais, com exceção de ‘louie louie’, e uma canção de Bo Diddley, ‘I Can Tell’. E essas, como sugeriu o crítico do NME, Nick Jones, poderiam ser dispensadas, já que ‘versões psicodélicas de louie louie não funcionam. Mas se eles puderem combinar sua perícia eletrônica com canções com melodias e letras [...] podem se dar muito bem num futuro próximo’.

1966...

Na verdade, as tais ‘canções com melodias e letras’ já estavam ali, num repertório dividido de forma quase idêntica entre pretextos vagos para o improviso, que atendiam por títulos como ‘Gimme a Break’, ‘Stoned Alone’, ‘Interstellar Overdrive’ e ‘Flapdoodle Dealing’, e um tipo completamente novo de canção pop, com Syd demonstrando uma extravagância quase tola em ‘The Gnome’, Matilda Mother’ [essas duas entraram em Piprer] e ‘Let’s Roll Another One’ (depois rebatizada de maneira careta como ‘Candy & A Currant Bun’). Tudo o que eles precisavam era de um cenário melhor.

Por ordem de seu empresário, o Floyd até deu nome a esse amálgama esquizofrênico de estilos pop, adotando a palavra ‘psicodelia’ como descrição ideal do que tentavam fazer. Isso ocorreu bem a tempo de eles se tornarem os filhos diletos de um underground cheio de energia: primeiro, por meio do ‘Intenational Times’ [jornal de música da época, e um dos mais importantes], lançado no mês em que começaram sua temporada na Free School; depois, em dezembro, quando tornaram a banda residente do clube UFO [o clube psicodélico mais importante da época, onde lá estive, em agosto de 2014!].

os pais do psicodelismo inglês e mundial!!!

A rigor, no início o recém-nascido IT não tinha muita certeza de que o Floyd fosse mesmo tudo isso. Em sua primeira edição, descreveu um show do Floyd como ‘baile pop’ e ‘psicodelia’; na segunda, como ‘pop psicodélico’; na terceira, como ‘workshop de som + luz’. Até que, finalmente, veio ‘o fabuloso e psicodélico Pink Floyd’, na quarta edição. No número seguinte o jornal fez uma resenha sobre a banda, com Norman Evans descrevendo ‘seu trabalho como improvisação na maior parte do tempo [...] o guitarrista Syd Barrett carrega nos ombros o peso de dar continuidade e agressividade às partes improvisadas [...] com amplo espectro de sons [...] de guinchos estrangulados a suaves rugidos de microfonia.’”.

Ainda bem que ‘psicodelia’ era um termo tão novo que resistia a uma definição, pelo menos no contexto pop. Assim como o ‘folk-rock’, fenômeno do verão anterior [1965], estava totalmente sujeito a interpretações. Ninguém sabia muito bem o que qualificava a psicodelia da Costa Oeste, embora o termo fosse onipresente por lá. Sem dúvida, em outubro, já era tão comum que Brian Wilson [líder dos Beach Boys] pode prever que ‘a música psicodélica vai cobrir toda a face da Terra e cobrir todo o cenário da música popular. Tudo o que acontece é psicodélico’. Mas que definição exata!

Na mesma semana em que a declaração de Wilson apareceu na revista ‘Go!’, a ‘Melody Maker’ trazia uma matéria de duas páginas intitulada ‘Psychedelic The New In-Word’ [Psicodélico: a nova palavra do momento], na qual Graham Nash convenientemente explicava que a psicodelia era ‘a tentativa de criar uma sessão de LSD sem o uso de drogas’, parafraseando assim a definição de Frank Zappa para um ‘freak out’: Uma tentativa de alcançar o mesmo efeito de tomar ácido, mas sem a parte ruim.

em Chelsea, no começo de 1967...

Mesmo que ninguém admitisse, a ligação entre Byrds, Fugs e Floyd era simples – e vinha em tabletes. Artistas e público estavam alterados na maior parte do tempo, daí as improvisações errantes dos primeiros e a aceitação bondosa do último. Mas até mesmo o novato Floyd sabia que era preciso cautela antes de tornar essa conexão evidente no mês em que a dietilamida do ácido lisérgico foi decretada ilegal.

Quando um jornalista do ‘Sunday Times’ perguntou a Andrew King, agente da banda, sobre a lendária festa de lançamento do IT no Roundhouse, ele rebateu: ‘A gente não diz que é psicodélico. Também não nega. Tampouco confirma. Deixamos isso para quem tem que criar slogans’. Da mesma forma, quando um jornal universitário pediu uma declaração do Floyd antes de um show em fevereiro, ouviu: ‘Nossa música é uma experiência completa, assim como tomar drogas. Mas não pretendemos reconstruir os sentimentos de ninguém sob efeito do ácido.’. Em abril de 1967, eles já se distanciavam de tudo que fosse psicodélico, chegando a criar um anúncio de gozação que convocava as pessoas para uma ‘Piração-Pura Ação’ (Freak-Out Shmuck Out), na qual poderiam ‘chegar, pagar, se jogar’. De forma quase profética, a banda também rotulou sua música como ‘pop psicodélico esquizofrênico’.

Barrett já começara a demonstrar um fervor messiânico pelo que (ele achava que) estavam fazendo. Independentemente do que a banda dizia à imprensa, o novo som do Pink Floyd e as músicas que ele vinha compondo eram total reflexo de uma estética do ácido. Como Jenner diria depois, ‘Syd ficou muito entusiasmado com o ácido e mergulhou no lado religioso’. Seu sócio King sugere que ele tinha uma fé bem específica ‘numa espécie de revolução gnóstica e poética que acontecia em seu corpo e no mundo’ Porém, naquele momento Syd ainda estava mais propenso a chapar com maconha em vez de arriscar muitos sonhos lisérgicos:

Peter Jenner: [A cena] não era muito psicodélica [em 1966]. Fumar maconha [sim], mas não rolava muito ácido. A gente já tinha lido a respeito, mas não era fácil encontrar. E as únicas pessoas [no Floyd] que fumavam, a ponto de ser digno de nota, eram eu e Syd. Na época, Roger Waters tinha certeza de que eu era um traficante.

cartaz, do final de 1966... ao fundo, o retrato do show de luzes que o Floyd fazia nos shows, que tentava refletir - parte - dos efeitos das visões de quem toma ácido...

Se antes o Floyd fazia parte de um underground pop desunido, tudo mudou com a festa do IT no Roundhouse, na noite seguinte ao segundo show na Free School. Em 15 de outubro [de 1966], de acordo com os pôsteres espalhados pelo norte de Londres, aconteceria a festa de todas as festas, uma ‘Rave de uma Noite inteira’, que pedia aos farristas para ‘trazer seu veneno, trazer flores e encher [sic] balões’. O Floyd era a segunda atração principal da noite, depois de uma banda vizinha de Londres, o Soft Machine, mais uma banda de jovens músicos disposta a improvisar no contexto pop, o Soft Machine era um esquisito e (brevemente) maravilhoso amálgama de fanáticos por jazz e Canterbury, um poeta/muso maconheiro e um pretendente a compositor cujas canções eram fora do padrão o suficiente para serem estranhas e melódicas o bastante para serem pop [Soft Machine... bandaaaaaça da época!!!].

Embora o show no Roundhouse tenha sido bem mais ou menos para as duas bandas, foi um evento repleto de significado, uma festa de debutante do underground londrino. E, como tinha as melhores canções, mais presença de palco e um show de luzes adequadamente psicodélico, o Floyd acabou sendo notado por todos da plateia que pararam um pouco de olhar as estrelas no céu para ver a que estava no palco. Barrett já era o astro do show, algo que o novo letrista do Cream, Pete Brown, percebeu na hora: ‘Fosse ou não por causa das drogas [...] Syd sempre parecia estar num nível alto de inspiração que, sendo cruelmente honesto, estava além do que o restante da banda conseguia tocar’.

uma noite no Roundhouse, por volta de 1966... Estas imagens eram conseguidas com derramamento de óleo em slides, projetados por luzes coloridas... Psicodélico!!!

Também captando tudo naquela noite, fantasiado de sheik (da Arábia?), estava Paul McCartney, na companhia de Marianne Faithfull (que pode ou não ter ido fantasiada de freira). Parece que ele ficou bem impressionado como Floyd e também com o Soft Machine; nos primeiros meses de 1967, enquanto elaborava sua reação aos inconstantes parâmetros do pop, ele era visto com regularidade no UFO, acompanhando o crescimento e o fortalecimento das duas bandas.

Miles: Eu lembro de que certa vez, no UFO, [Paul] e eu nos sentamos no chão para um show inteiro, e foi um [show] interminável do Soft Machine, mas ele queria ouvir o que estava rolando – especialmente o órgão. Eles eram mesmo muito inovadores.

O lançamento do IT atraiu uma enorme cobertura da mídia – apesar de, em certo momento, o show de luzes do Floyd ter causado pane na energia elétrica, expondo a natureza precária de uma aventura organizada com pouco dinheiro e alguma reza - , em parte porque gente como McCartney, Faithfull e o cineasta italiano Antonioni (que estava em Londres filmando ‘Blow up – Depois daquele beijo’ queriam ser vistos na cena. Como disse Jim Haynes, cofundador do IT: ‘[A festa] lançou o jornal e também o Roundhouse como um local’.



Apresentação no "Games for May", maio de 1967...

(...) Então, chegou a vez do Floyd [de tocar no Roundhouse, após o The Who], que voltava a seu elemento, mas também estava exausto depois de vir correndo pela A11 logo depois de tocar horas antes em outra festa de Ano Novo no Cambridge Technical College. Eles compensaram tocando num volume ensurdecedor, liderados por um Barrett que parecia perigosamente à beira do abismo. Quanto a Towshend [Pete, guitarrista e letrista do Who], foi a primeira vez que viu Syd, e ele ficou tão maravilhado quanto assustado:

Pete Towshend: Eu achava bem interessante o que Syd fazia [...] embora não desse para ouvir muito bem porque ele usava dois ou três pedais de eco ligados em sequência... Mas, se tinha uma coisa na qual Syd era inovador, era ficar completamente chapado. Foi a primeira pessoa que vi totalmente drogada num palco.

Quando Barrett viu no anúncio do show que seria um ‘Baile Freak-Out Duplo Gigante’, levou os organizadores ao pé da letra. Quando eles prometeram ‘sons psicodélicos de Mother’s of Invention, Fugs [...] [e] Radiophonic Workshop’, ele quis comprovar que o público sabia quem realmente estava ‘por dentro, cara!’, até mesmo aqueles que tinham vindo mais para ‘ver as luzes bonitinhas’. O Floyd tinha evoluído bastante desde aquele primeiro Spontaneous Happpening, embora ainda não soubesse bem como registrar da melhor maneira seu som (e sua fúria) numa fita. Esse desafio se manteve, não só para eles, mas para todas as bandas que surgiram nos clubes londrinos naquele ano e que ainda precisavam chegar ao vinil negro, que era o que mais interessava.

Esta é de 1967 e eles já estavam no famoso estúdio de Abbey Road...

“Arnold Layne”, o primeiro compacto do Pink Floyd, foi gravado na primeira semana de 1967, estúdio Soundtechnics, em Chelsea.

Se o som de ‘Purple Haze’ [gravada nesta mesma primeira semana] ampliava as fronteiras do pop, o som e o tema de ‘Arnold Layne’ teriam chocado a todos um ano antes. O NME foi cuidadoso ao falar a seus leitores, indicando que a música era ‘sobre um rapaz que acaba preso porque fica louco ao aprender sobre determinados aspectos da vida’. Syd, o autor, não foi tão recatado e informou à ‘Melody Maker: ‘Arnold Layne apenas curte vestir roupas de mulher. Muita gente curte – então vamos encarar a realidade’. O letrista do Cream ficou pasmado com a nova canção de Syd:

Pete Brown: Provavelmente ‘Arnold Layne’ foi o primeiro sucesso pop a abordar, com sotaque inglês, as obsessões culturais inglesas e os fetiches ingleses. Nunca tinha surgido nada parecido; todo mundo vinha se comportando como norte-americanos.


Clipe "oficial" de Arnold Layne.


UFO CLUB

O UFO foi um dos principais palcos do Pink Floyd e da psicodelia londrina.

Estive por lá, em agosto de 2014 e deu um baita trabalho para encontrá-lo. Fica bem distante do centro de Londres, quase uma periferia!!! Mas, conseguimos chegar lá e hoje é uma construção bem moderna, um pouco diferente de há 50 anos.

O UFO, em 1966/67 e hoje... Descendo esta avenida, à direita, tem uma estação de metrô e, mais abaixo, uma via expressa... fomos até lá à pé e voltamos...

Heylin conta-nos: 

O UFO Club (...) abriu suas portas na Tottenham Court Road para sua primeira noitada semanal em 23 de dezembro de 1966 e fechando-se pela última vez em 28 de julho de 1967. Nos primeiros cinco meses, recebeu apenas bandas ‘underground’ – ‘fãs do Move’ estavam barrados. Isto é, até que Joe Boyd [empresário do Move e do Pink Floyd] insistiu – e lembrou à equipe que era em sua maior parte dele a ideia do clube:

Na estréia do UFO - 23 de dezembro de 1966, o Pink Floyd foi sua atração principal!!!

Joe Boyd: A maioria do público do UFO só queria se chapar, transar e ouvir boa música. Eles acreditavam nos objetivos do movimento [hippie], mas não estavam preparados para alcança-los, abrindo uma trincheira na linha de frente... Mas nada simbolizou tanto minha apostasia junto aos olhos radicais quanto marcar um show do Move... Estava determinado a apresentar os meus falsos psicodélicos favoritos, mas quando a equipe soube disso, ficou horrorizada.

O show do Move no UFO em maio, no primeiro aniversário do ataque aural de Dylan no Abert Hall, marcou mais um cisma. Sua apresentação, um mês depois da psicodelia bem mais falsa da banda de um só sucesso The Smoke (de ‘My Friend Jack’), indicava que os infiéis não rondavam mais os arredores. Tinham chegado ao santuário secreto. Não importa o que os músicos comunicassem, para os devotos do UFO era inaceitável uma banda psicodélica que não tomava drogas psicodélicas.

as outras bandas da época... "Tomorrow" era a banda de Jon Anderson, vocalista que depois fundou o YES, junto com o saudoso baixista Chris Squire, minha segunda banda favorita!!!

No entanto, na opinião de Miles, ‘o Move fez um dos melhores shows de sua vida [...] mas ainda assim as pessoas não gostaram muito. Achavam que a repentina conversão do grupo à causa hippie era hipócrita e também não gostaram dos fãs com roupas de pelo de cabra que vieram junto’. Parece ter passado despercebido o fato de o queridinho do underground Pink Floyd – que tocou em quase todas as noites do UFO entre 23 de dezembro de 1966 e 21 de abril de 1967 – ter gravado no fim de semana anterior seu segundo compacto e a última faixa de seu álbum de estreia, ambos feitos para inserir a banda no reino do estrelato pop.
 
fevereiro de 1967... 

Sem levar em conta sentimentos pessoais, naquele fim de semana de maio acabou o sonho do aparentemente benéfico porém confuso UFO. Chegava a algumas lojas do West End, uma semana antes de seu lançamento oficial, um certo álbum com capa dupla e as letras das músicas na contracapa, às quais era possível dar quase qualquer significado. O elo entre psicodélicos e pop se tornava oficial. Os Beatles retomavam a cruzada. Era hora de reclamar a cidadela de volta.

SGT. PEPPERS E PIPER – ANTES E DEPOIS, DEPOIS E ANTES

Um homem chamado Norman [Smith, produtor do Floyd], vestindo uma camisa roxa, chegou. Ele tinha sido uns dos engenheiros de som, mas agora tinha sua própria banda. The Pink Floyd. Muito educado, perguntou a George Martin se seus garotos poderiam entrar para ver os Beatles trabalhando. George sorriu, mas nada fez para ajudar. Norman disse que talvez devesse pedir pessoalmente a John [nesse tempo ele ainda era o líder dos Beatles], como um favor. George Martin disse que não, isso não funcionaria. Mas, se por acaso ele e os rapazes aparecessem por volta das onze, ele veria o que podia fazer. Eles apareceram às onze, e trocaram alguns olás tímidos”. Hunter Davies, A Vida dos Beatles, A Única Biografia Autorizada.

Era noite de 21 de março de 1967. Os Beatles davam os toques finais a ‘Getting Better’ e ‘Lovely Rita’, no Estúdio dois. Hunter Davies por fim convencera os rapazes a deixar que ele os visse trabalhando em estúdio. Enquanto isso, do outro lado do corredor, no Estúdio três, o Pink Floyd trabalhava na surpreendentemente percussiva ‘Pow R Toc H’ com seu produtor Norman Smith, a quem pediram ‘com insistência’ para serem apresentados aos Beatles – pelo menos é o que se conta.

o Floyd em Abbey Road... mais ou menos em junho/julho de 1967...

A versão de Davies sobre o famoso encontro entre Floyd e os FabFour é a normalmente citada, e sugere um acontecimento corriqueiro, de pouca importância. No entanto, Davies era (e é) biógrafo profissional, não jornalista de música, e sua ignorância sobre o Pink Floyd era evidente. Ao que parece, ele também não sabia que Lennon estava ‘alto’ como Mr. Kite, por ter ingerido sem saber um tablete de ácido (que, supõe-se, imaginava ser anfetamina). Assim, Lennon não estava em condições de conhecer ninguém, nem mesmo alguém como Syd Barrett, mais do que capaz de se garantir num duelo de consumo de ácido.

É impossível não detectar certa ironia no fato de Syd Barrett ter feito o papel de careta naquela noite no Estúdio dois, e de ser Lennon quem passou o dia viajando. É possível que Syd ainda se visse como aprendiz de feiticeiro. Se foi esse o caso, estava prestes a ter uma amostra de quão intenso – e tedioso – o trabalho dos feiticeiros se tornara. Segundo Peter Jenner, ‘ficamos lá por uma ou duas horas, e tudo o que eles fizeram foi um final de música. Interminável.’ Ficou claro para todos que havia uma diferença fundamental nas abordagens das duas bandas:

apresentação para a TV inglesa, em 1967...

Jeff Jarrett [Engenheiro da EMI]: O Floyd criava ambientes e atmosferas sonoras, enquanto os Beatles faziam grandes canções [...] depois de passarem muito tempo tentando criar sons interessantes que ajudassem a aprimorá-las.

McCartney já sabia disso. Ao contrário de Lennon – que, na verdade, não ouviria o Pink Floyd até o ’14-Hour Technicolour Dream’, em Alexandra Palace, no final de abril - , Macca vinha demonstrando um vívido interesse pela banda de Barrett desde outubro do ano anterior, quando os viu no lançamento do IT e tornou-se um frequentador das noites do UFO, em que o Floyd e o Soft Machine se revezavam para entreter os freaks. Miles, seu confidente ocasional, já tinha sido fisgado pela banda.


cartaz promocional do grande evento debutante da psicodelia inglesa... quando ela saiu um pouquinho do underground londrino...

anúncio no jornal International Times, da época, do 14-Hour...

John e Marianne Faithfull, no 14-Hour... O dia em que ele conheceu e viu o PINK FLOYD e Syd Barrett!!!!

Miles: Ele sabia que eu curtia o Pink Floyd. Conversamos várias vezes sobre tentar introduzir a eletrônica moderna e ideias de outras áreas [musicais], jazz muito avançado, [porque] todos esses elementos eram o futuro do pop... Que eu saiba, esse era o grande interesse no Pink Floyd. Eles pareciam estar levando as coisas neste rumo, e foi provavelmente por isso que ele foi até o UFO.

Paul tinha ficado impressionado o bastante com o que ouvira no lançamento do IT, para não ficar calado, e uma resenha na edição de novembro [de 1966] afirma que a banda tinha conseguido ‘amplificadores maiores, novo equipamento de luz e elogios de Paul McCartney. Quando o UFO foi aberto, no final de dezembro, ele era presença tão constante quanto o Floyd. De fato, sua principal lembrança do clube, conforme rememorou em conversa com Jonathon Green décadas mais tarde, era de ter visto ‘a primeira encarnação do Floyd. Eles se apresentavam lá com muitas projeções, muita gente perambulando... Parecia um parque de diversões viajandão, na verdade’. E, quando fez seu apelo em prol da tolerância por todas as coisas psicodélicas na TV Granada no final de janeiro, foi em grande medida em benefício do Floyd. Sendo assim, é bem difícil acreditar que McCartney tenha demorado um mês inteiro, após a primeira ida do Floyd a Abbey Road, em 21 de fevereiro, para ver como eles estavam indo ou dar um alô. De fato, ele não esperou muito tempo para dar uma passada por lá.

uma das apresentações no UFO....

Miles: Lembro-me de ir a uma das sessões de gravação dos Beatles e ver um dos roadies do Floyd, que disse que eles estavam gravando lá. Então acho que a primeira vez que algum dos Beatles foi vê-los no estúdio foi quando levei Paul. Falei que a banda estava lá e ele respondeu: ‘Vamos lá dar um oi’. Fomos só Paul e eu. Ele já os conhecia do UFO. Eles estavam em pé no estúdio, gritando para a janela da cabine de controle porque não haviam percebido que podiam falar ao microfone. Lembro-me de Paul tentando deixa-los à vontade.

O fato de os rapazes de Cambridge agirem tão em desacordo com os procedimentos de um estúdio da EMI com certeza indica que esse encontro ocorreu já na primeira vez que eles ultrapassaram os portais de Abbey Road. McCartney estava no estúdio na noite do dia 21, fazendo os overdubs finais em ‘Fixing a Hole’, um trabalho leve. O Floyd, por outro lado, tinha muito a fazer. Syd, é claro, sempre tinha tempo para McCartney. Segundo Peter Bown, engenheiro de som do Floyd, o sentimento era mútuo: ‘McCartney disse a Barrett que gostou do que ouviu da banda e achava que eles estavam fazendo algo único e criativo’. Um endosso por excelência, que o produtor do Floyd, Norman Smith, certamente levou em conta.

cartaz de 1966...

Na verdade, após Smith levar a banda ao conhecimento de seu chefe, Beecher Stevens, as negociações continuavam sem ele. Já havia um compacto gravado [Arnold Layne/Candy and Currant Bun], uma oferta da concorrência na mesa e (supõe-se) o endosso expresso de James Paul McCartney. Mas os empresários do Floyd estavam dispostos a garantir que qualquer contrato assinado colocasse como prioridade a gravação de um álbum, e não apenas mais compactos pop. Como diz Peter Jenner, ‘fomos a primeira banda a ser contratada pela EMI para fazer um álbum. Não precisávamos ter compactos de sucesso antes da permissão para o álbum’.

Syd, em Abbey Road...

Porém, havia, sim, condições, e uma delas tinha a ver com Norman Smith. Stevens disse a Rick Sanders, em 1974: ‘Um dos rapazes do grupo [...] parecia um pouco estranho, um dos motivos pelos quais eu quis Norman Smith como produtor. Achei que ele conhecia a música deles bem o bastante para manter pulso firme nas sessões’. Na verdade, Smith não poderia estar mais distante da estética do Floyd. No entanto, independentemente de qualquer acordo com a AIR, a EMI jamais aceitaria um produtor de fora trabalhando com uma banda tão inexperiente. E Smith tinha ‘direitos adquiridos’. Havia ainda a sensação geral – inclusive dos empresários do grupo – de que o Floyd precisava de alguém que trouxesse à tona a inquestionável sensibilidade pop das canções de Barrett:

Peter Jenner: [Norman] usou seu conhecimento profissional como um advogado faria. Seu trabalho era produzir um disco. Não me lembro de ele ter vindo conversar conosco [sobre o contrato]. Quem tratou disso foi a EMI. Mas o que acho que Norman fez transformar as canções em músicas de três minutos, a partir de viagens de seis, sete minutos. Joe fez o mesmo – mas Norman foi mais bem sucedido... Syd na verdade compunha na estrutura padrão das canções pop, mas ao vivo eles improvisavam longos trechos instrumentais. Quando começou a trabalhar com eles, Norman pensou: ‘Isso não vai funcionar’.

A inexperiência do Floyd com certeza ficou evidente na primeira sessão, e não só porque eles não sabiam usar os microfones do estúdio para falar com a mesa de controle. Quando começaram a gravar ‘Matilda Mother’, uma das primeiras composições de Barrett, o fizeram em um volume ensurdecedor. O engenheiro Peter Bown conta que ‘destruímos quatro microfones muito caros naquela primeira noite. Eles aumentavam o volume cada vez mais, até tudo ficar sobrecarregado e os microfones pifarem’.

Abbey Road, entre maio/julho de 1967.

Também foram gravados na primeira noite, pelo menos segundo os registros do estúdio, versões de ‘Arnold Layne’ e ‘Candy and Currant Bun’. Isso parece pouco provável, já que as versões produzidas por Boyd estavam no calendário de lançamentos da EMI para meados de março [de 1967]. No entanto, um acetato do lado B, contendo a mesma base, mas com letra e mixagem diferentes, um novo vocal e uma passagem de teclado adicional, confirma que pelo menos uma delas passou por uma cirurgia de reconstrução. Segundo Boyd, ‘a EMI nos fez voltar atrás e mudar o verso ‘I’m high, don’t try to spoil my fun’ [estou chapado, não tente estragar minha diversão]. Na verdade, a faixa passou por uma reinvenção completa por exigência da EMI, transformando-se da explicitamente sugestiva ‘Let’s Roll Another One’ para adocicada ‘Candy and Currant Bun’.


Em vez de anunciar o Floyd como a primeira banda psicodélica da Inglaterra, a EMI decidiu fazer exatamente o oposto. O primeiro informativo de imprensa da banda incluía a declaração imortal: ‘O Pink Floyd não sabe o que as pessoas querem dizer com pop psicodélico e não tenta criar efeitos alucinatórios no público’. Continua a ser um mistério o motivo de a gravadora estar tão preocupada com as possíveis interpretações do primeiro lado B do Floyd depois de lançar um lado A depravado a ponto de ser banido, entre todas as emissoras possíveis, justamente pela rádio pirata Radio London. Felizmente, ‘Arnold Layne’ sobreviveu intacta a qualquer pós-produção que tenha ou não ocorrido no dias 21, e foi entregue à apreciação do público, que acolheu o cheirador de calcinhas de Barrett em seus corações.

Syd, antes de uma apresentação para a TV, que não foi ao ar...

Se a sessão do dia 21 foi pouco mais do que um exercício, o trabalho em Piper at the Gates of Dawn começo no máximo seis dias depois, com uma sessão de sete horas de gravação que se prolongou até as duas e quinze da manhã. De novo, foi a equipe de gravação quem pagou o preço de trabalhar nesse horário ingrato, tendo menos acesso que o Floyd ao que Dylan gostava de chamar de ‘remédio poderoso’. É provável que tenha sido nessa sessão que, segundo o baterista Nick Mason, ‘repassamos o repertório para escolher uma música e começar a gravar e impressionar nossos novos camaradas. Infelizmente, todos tinham gravado até tarde no dia anterior. Depois de meia hora, Peter Bown caiu no sono em cima do console e Norman [...] fez o mesmo pouco depois’.

Após a soneca, o trabalho recomeçou com ‘Chapter 24’, assim chamada porque a letra foi tirada do Capítulo 24 do I-Ching (na tradução de Wilhelm Reich). Cinco takes foram suficientes e então, sentindo que haviam aprendido a brincadeira, o Floyd partiu para uma tentativa de gravar sua marca registrada, ‘Intertellar Overdrive’, que a banda já via como peça central do álbum. O desafio era produzir a sensação ode espaço e de ausência do tempo que ela tinha no UFO, mas mantendo certos limites, para que a música não fugisse ao controle.

‘Interstellar’ foi a única música nas sessões de Piper que a banda já havia gravado em estúdio. Na verdade, tinha feito isso duas vezes, com um intervalo de dois meses e meio entre elas. Em ambas gravações, a música ultrapassou a marca de quinze minutos, enquanto os músicos tentavam reproduzir a sensação do show ao vivo no estúdio (o que nunca é tarefa fácil). A primeira versão, gravada no final de outubro do ano anterior num minúsculo estúdio de dois canais em Herts – Hemel Hempstead, para ser exato -, foi usada como trilha sonora de um filme underground. Era, como afirma Andrew King, ‘muito ao vivo – era como se eles estivessem tocando num show’.

Abbey Road, julho de 1967... Syd já estava começando a "não querer saber..."...

Essa viagem sonora – todos os quinze minutos e onze segundos – demonstra uma clara analogia transatlântica com o que o Velvet Underground fazia em Nova York durante o período do Exploding Plastic Inevitable [Série de eventos multimídia organizados por Andy Warhol em Nova York entre 1966 e 1967, que contava, entre outras atrações, com apresentações do Velvet Underground], quando a banda criou uma estrutura básica – eles a chamavam ‘Melody Laughter’ – em torno da qual desenvolvia qualquer feitiço sônico que se manifestasse. Já o Floyd não era muito consistente na tarefa de limitar uma música a um determinado arranjo. Ou até era. O trabalho de Mason e Waters na gravação de outubro não conseguiu dar a sustentação necessária, e era bem complicado trazer a música de volta ao chão. No entanto, segundo Andrew King, ‘se deixassem, Syd teria improvisado a mesma sequência de acordes a noite toda. Roger deu [a ‘Interstellar Overdrive] as fronteiras dinâmicas dentro das quais Syd podia mover-se com liberdade’. Se esse foi mesmo o caso, essas ‘fronteiras dinâmicas’ ainda estavam por ser traçadas em outubro de 1966.

Estúdios de Abbey Road, 1967...

Quando Joe Boyd os colocou no Sound Techniques, em janeiro do ano seguinte, eles já tinham shows no All Saints, no Roundhouse e no UFO em seu currículo multicolorido, além de um engenheiro de som e um produtor de verdade para guia-los. O resultado: um salto gigantesco em direção à originalidade. O resultado mais uma vez tinha como objetivo a trilha sonora de um filme, o retrato pseudodocumental da Swinging London por Peter Whitehead, ‘Tonite All Make Love in London’. Como sempre, a moderação não estava na ordem do dia, já que Whitehead pretendia escolher cuidadosamente fragmentos que impressionassem, pintando belas imagens psicodélicas para passar as horas (sim você acertou, o filme é mais uma daquelas obras mais bem apreciadas quando se está chapado).




"Esta noite, todos fazem amor em Londres"... 1967...

Assim, a ‘Interstellar Overdrive’ de janeiro tinha quase dezessete minutos, uma duração sem precedentes para qualquer faixa (talvez, a comparação mais próxima seja o Love, uma das bandas favoritas de Barrett, cuja ‘Revelation’ ocupa todo o lado B de ‘Da Capo’, sem revelar muita coisa). O Floyd também fez outra jam psicodélica de doze minutos à moda UFO, ‘Nick’s Boogie’, para uma posteridade tardia [as gravações de Interstellar e Nick’s não apareceriam até 1990, quando a gravadora See for Miles, lançou em CD uma versão ampliada do LP com a trilha sonora original]. Essa sessão tinha o objetivo de documentar o Pink Floyd psicodélico, não os futuros astros pop que Boyd também registraria sem esforço, duas semanas depois, em ‘Arnold Layne’, uma gravação que Norman Smith não conseguiu melhorar.

Enquadrar ‘Overdrive’ foi o maior desafio de Norman Smith naquela primavera. Ele já tinha percebido onde estava a fonte de poder da banda: ‘Syd tinha mesmo o controle. Ele era o único que compunha, o único que eu, como produtor, tinha que convencer das minhas ideias’. Porém, ele estava prestes a descobrir que, além de ideias próprias bastante definidas, Barrett possuía um espírito relutante sob aquela aparência charmosa e jovial. Smith revelou recentemente: ‘Sempre senti que pisava em ovos o tempo todo, e tinha que prestar muita atenção ao que dizia a Syd. Ele sempre foi extremamente frágil... Mas havia também uma certa teimosia nele’. Essa tendência à teimosia não se manifestava em confrontos verbais, como podia acontecer com alguém descontrolado como Lennon, mas sim na determinação de quem não seria desviado de seu rumo pelo ultracertinho Smith:

Norman Smith: Ele começava a cantar uma música e eu o chamava à cabine de controle para dar algumas instruções. Então ele saía e não cantava nem a primeira parte igual, muito menos o trecho o qual tínhamos conversado. Às vezes ele mudava a letra – ele simplesmente não tinha disciplina.



Na verdade, Barrett demonstrou muita disciplina nessas sessões, lapidando alguns dos maiores manifestos de expressão da mente do mundo hippie até obter a superfície lustrosa de canções pop altamente acessíveis, revelando estar mais para camaleão que para papagaio. Bown, o engenheiro de som, diz: ‘Syd era menos rígido sobre o que podia e o que não podia ser feito. Ninguém nunca entendeu direito o Pink Floyd, principalmente Norman. O Pink Floyd era diferente, e tinha que ser diferente’. A primeira ‘Intertellar Overdrive’ da EMI foi gravada em dois takes, ambos por volta da marca de dez minutos, no final de uma longa sessão. Assim como aconteceu com ‘Arnold Layne’, ela foi considerada amplificada, mas inevitavelmente ficou aquém do que podia ser ao vivo (algum tempo depois, Pete Townshend criticou o álbum por ter ‘tão pouco a ver com o que eles faziam ao vivo. Ficou parecendo bubblegum [chiclete de bola, atribuído às músicas exclusivamente comerciais, com letras e melodias simples, com apelo para o público infantil e adolescente] – música de Mickey Mouse’, embora a mesma ‘crítica’ possa ser feita ao Who, em 1967). Mas tudo se resumia ao que Jenner havia dito a uma cética repórter de rádio canadense: ‘Se o som que eles fazem nos clubes tocar no rádio enquanto você lava louças, provavelmente vai deixa-la histérica!’.

Ainda que a ‘Interstellar Overdrive’ de 27 de fevereiro fosse um grito mudo, não seria o último. Quando voltou a Abbey Road, em 16 de março, após rodada de shows e trabalho promocional para ‘Layne’, a banda concordou em produzir uma versão mais resumida para um compacto a ser lançado na França, presumivelmente acreditando que os primos continentais não suportariam todos os dez minutos da viagem (na verdade, a França foi o único lugar do mundo a lançar a versão de onze minutos de ‘Goin’ Home, dos Rolling Stones, nos dois lados de um compacto, ou seja...). Usando a base de 27 de fevereiro, eles inseriram um final pirado à música no lugar do costumeiro salto borbulhante no hiperespaço. Ainda assim, não deixariam sua música mais característica de lado. Novas pinceladas seriam aplicadas no estágio de mixagem.



Por ora, é necessário retornar a algumas estranhas histórias da vasta coleção de lendas sobre o líder da banda. Se em sua primeira nota biográfica divulgada à imprensa pela EMI ele reclamou sobre ‘não ter mais tempo para ler contos de fadas’, Barrett ainda encontrava tempo para escrevê-los. Embora o Floyd encontrasse pouca resistência da gravadora quanto aos seus cansativos métodos de trabalho e seu estilo de vida notívago – seguindo o caminho aberto pelos Beatles em ambos os casos - , a agenda da banda não era flexível como a do grupo de Liverpool. Definitivamente eles não estavam aposentados da estrada. Conforme observa Mason, ‘com frequência ainda usávamos o estúdio à tarde e íamos fazer shows à noite’.

A solução foi arranjar um conjunto de sessões em meados de março para fazer o grosso do álbum. Após a produtiva sessão de 16 de março, a banda decidiu passar três dias da semana seguinte produzindo material suficiente para que as encomendas do disco começassem a ser feitas. Quando conheceram um Lennon fora de órbita e ouviram fragmentos do que os Bealtes estavam prestes a oferecer ao mundo, os rapazes de Cambridge já tinham gravado mais cinco decolagens em quatro dias de trabalho, contínuo no estúdio: ‘Flaming’, The ‘Gnome’, ‘Take up Thy Stethoscope’, de Roger Waters, ‘The Scarecrow’ e ‘Pow R Toc H’.


Enquanto ‘Stethoscope’ e ‘Pow R’ eram antigas favoritas dos shows, ‘Flaming’ era um acréscimo recente de Barrett e seu cancioneiro. Baseada em ‘I Come and Stand at Every Door’, dos Byrds – por sua vez baseada na velha cantiga folclórica do norte escocês ‘The Great Silkie of Sule Skerry’ – ela não se contentava em subir meras oito milhas. Após Syd cantar ‘Hey, ho, here we go/Ever so high’ [Ei, ô, aqui vamos nós/muito mais alto], vinha a representação sonora de uma experiência psicodélica – supostamente inspirada por um piquenique regado a bolinhas nas margens do Rio Cam no outono de 1965 - , o que desmentia a alegação da EMI de que a banda de Barrett não tentava criar efeitos alucinatórios no público.

Se nos estúdios eles dependiam apenas dos equipamentos de gravação para criar esse submundo dos sentidos – como show de luzes eo PA ensurdecedor fora da jogada - , tinham em Abbey Road um dos estúdios mais bem equipados do mundo para efeitos sonoros, ainda que precisassem ser gravados em quatro canais. Nessa era pré-digital, Nick Mason, ficou abismado ao descobrir que o ‘império da EMI possuía enormes quantidades de instrumentos espalhados pelos estúdios... Uma extensa biblioteca de efeitos sonoros também estava disponível, além de câmaras de eco, bem construídas e revestidas de ladrilhos, que eram nossas preferidas para gravar o som de passos’.

foto histórica em Piccadilly Circus, 1967...

Embora Norman Smith não tivesse a experiência de George Martin para incorporar efeitos sonoros – amplamente utilizados nas gravações cômicas que construíram a reputação de Martin na Parlophone - , toda sua equipe tinha prática no ADT, que foi aplicado com liberdade à maioria dos vocais de Barrett, em especial nas canções mais etéreas, como ‘Flaming’ e ‘Astronomy Domine’. O Binson Echorec foi outra ferramenta que provou que a única diferença entre homens e meninos é o preço de seus brinquedos, e com a qual eles se esbaldaram:

Nick Mason: O Echorec faz com que quase qualquer instrumento soe como se tivesse sido gravado por Thomas Edison em pessoa, já que provoca um aumento de ruído branco, mas isso era só parte da graça.

Enquanto os Beatles experimentavam com os sons do Oriente, o Floyd preferia beber das tradições igualmente ricas do Ocidente – combinando música clássica e folclórica. Para ‘The Gnome’, com letra de contos de fadas à la Irmãos Grimm, eles fizeram um arranjo quase coral. Usando uma celesta (espécie de órgão um tanto desafinado, mas de forma proposital) que alguém havia ‘deixado no estúdio, de uma sessão anterior’, eles deram à música sua sonoridade etérea, de outro mundo. Como Mason contou a John Cavanagh, esse tipo de espontaneidade foi uma das características dessas sessões, ‘há um certo ar aleatório em Piper, que é baseado no que acontecia na época’.


Abbey Road, 1967.

Mesmo antes de 21 de março – quando o Floyd terminou o seu ataque ininterrupto ao álbum e conheceu os outros Beatles - , McCartney evidentemente vinha observando o progresso da banda. Uma breve menção às gravações no Melody Maker daquela semana relatava que o ‘Beatle Paul McCartney já apareceu várias vezes nas sessões’; Andrew King lembra que ‘McCartney era muito amistoso. Ele vinha vez ou outra ao estúdio quando estávamos gravando’. Estaria ele preocupado que o Floyd pudesse chegar ‘lá’ primeiro?

Com oito composições próprias gravadas – e ainda faltando dez para os Beatles concluírem o trabalho em estúdio de Sgt. Pepper’s - , talvez tenha passado pela cabeça dos rapazes do Floyd que seu álbum, iniciado havia um mês, estaria pronto para lançamento quase ao mesmo tempo que o mais novo vinil dos Beatles – principalmente se a pós-produção de Pepper fosse tão lenta quanto as sessões.


Mas isso não aconteceria. O dia em que o Pink Floyd chegou a uma base satisfatória para ‘Pow R Toc H’ (que deve ser ouvida em mono; a mixagem em estéreo lembra um molusco nu pendendo da concha de sua encarnação mono), o Floyd ficou sabendo que seu primeiro compacto entrara nas paradas em 33º lugar. Como consequência, eles foram obrigados a deixar boa parte da mixagem para a equipe de Abbey Road, enquanto saíam em turnê pelos lugares mais badalados do hedonismo, como Barnstaple, Bromley e Bishop’s Stortfold, incluindo uma parada para pré-gravar uma apresentação dublada de ‘Arnold Layne’ para o Top of the Pops em 4 de abril – junto com o Move, que também tinha uma movimentada agenda de shows. Só que, enquanto ‘I Can Hear the Grass Grow’ continuava a subir nas paradas, ‘Arnold Layne’ começou a cair. Quando o Top of the Pops foi transmitido, no dia 6, a apresentação do Floyd não foi ao ar.

Ainda sem tempo para se comportar mal, a banda foi obrigada a reservar outra semana de sua agenda em abril para gravar as duas faixas que faltavam para o álbum entrar em pós-produção no calendário de lançamentos da EMI e, ao mesmo tempo, arriscar um segundo compacto para acompanhar a grande estreia em vinil. Uma apresentação no dia 14, em Newcastle-under-Lyme foi considerada impraticável devido à distância e adiada para maio, restando apenas dois shows em locais mais próximos de Londres, Tillbury, em Essex, e Brighton, no litoral sul, para aquela rara semana fora da estrada. O Floyd estava com força total no expresso em direção ao Prazo Final do Álbum.


Das duas faixas de Piper gravadas entre 11 e 18 de abril, ‘Astronomy Domine’, mostrou-se a mais problemática. Apesar dos catorze takes feitos no dia 11, ela ainda precisou de mais duas sessões, uma dedicada ao overdub dos vocais e de mais um trecho de guitarra de Syd; outra noite foi reservada para gravar o ‘canal louco’ que por fim daria à música (e ao álbum) sua tão impressionante abertura. Isso incluía Peter Jenner recitando num megafone citações do ‘The Observer Book of Spaceflight’ compiladas por Syd. Por fim, no dia 18, os vocais de Barrett foram tratados com o ADT e foi feita uma mixagem mono, na esperança de uma conclusão rápida do álbum.

Dada a atenção aos detalhes conferida a ‘Astronomy Domine’, fica claro que havia uma firme determinação de começar o álbum como a banda pretendia, com uma abertura psicodélica. A sessão de 11 de abril pode muito bem ter sido a que, segundo Bown, ‘eles tiveram muitos problemas para fazer as coisas progredirem no estúdio’, mas, se foi esse o caso, o motivo da frustração foi a busca pela perfeição, não a falta de concentração.

Friends... Roger and Roger...

Festa de lançamento de Piper... Não poderia ter sido diferente...

Num dia mais inspirado, a banda produziria facilmente uma ‘Astronomy Domine’ insuperável num único take, como foi demonstrado um mês depois, quando uma versão ‘ao vivo no estúdio’ filmada para o ‘Look of the Week’ da BBC, acompanhada de um atmosférico show de luzes dirigido por Barrett ofuscou a versão de estúdio, gravada a tão duras penas.

Apresentação na BBC, no "Look for the Week", 1967...

Segundo Ian Moore, amigo da universidade de Cambridge, a inspiração para a música foi uma das primeiras viagens psicodélicas de Syd, na qual ele segurava uma ameixa e uma laranja em cada mão e ‘a ameixa era Vênus e a laranja era Júpiter, enquanto Syd flutuava no espaço entre os planetas’. Nada podia ser mais distinto em conteúdo do que a canção que eles começaram a gravar no dia seguinte “Ratchatcher’, ela mais tarde foi renomeada nos registros do estúdio como ‘Lucifer Sam – Theme from the day in the life of Percy the Ratchatcher’ [Lucifer Sam – tema de um dia na vida de Percy, o Caçador de Ratos]. Aparentemente uma canção sobre um gato siamês com dons mágicos, ela recebeu a mesma atenção cuidadosa aos detalhes que sua predecessora, com boa parte de uma sessão (no dia 18) dedicada à sobreposição dos vocais para conferir-lhe um som levemente sibilante.

No dia 18 também foi gravada uma música que, ao que tudo indica, havia sido escolhida para fazer parte do compacto seguinte (‘See Emily Play’ ainda não tinha sido composta). Mais tarde substituída, ‘She Was a Millionare’ seria mencionada ao se falar num terceiro compacto do Floyd no final de julho. Duas das três versões gravadas no dia 18 foram registradas como concluídas, ambas durando exatamente quatro minutos e seis segundos, o que sugere que os esforços do Floyd produziram algo utilizável. No entanto, o fato de não haver uma mixagem final em mono, nem overdubs adicionais nas sessões de pós-produção, indica que ela foi logo posta de lado e depois simplesmente esquecida (e descartada).


Àquela altura já havia 38 minutos (ou seja, a duração de um álbum em 1967) de material novo e aproveitável gravado, a maioria mixado em mono por Smith e seus assistentes, pronto para apresentar ao mundo comercial o som antes subterrâneo da psicodelia. Porém, o projeto de Piper ficou parado quase um mês, enquanto a banda se preparava para os dois maiores shows de sua carreira até então: o 14-Hour Technicolour Dream, que aconteceria em Alexandra Palace no último sábado de abril (29) – no qual Lennon finalmente ouviria o que vinha evitando - , e um concerto especial, com o público sentado, o Queen Elizabeth Hall na sexta-feira, 12 de maio, intitulado ‘Games of May’. Dividido em duas partes, com um intervalo no meio, ele foi apresentado como o tipo de recital clássico comumente realizado nesse teatro. O conceito de ‘Games of May’ fez com que Barrett escrevesse uma canção-tema para o evento, talvez seu melhor momento pop, ‘See Emily Play’. Mas o atraso resultante ocasionou que o álbum não ficasse pronto, no mínimo, até julho.

cartaz promocional do 14-Hour...

O Pink Floyd foi a grande atração do 14-Hour, com Syd em estado de graça!!!!

Aspecto do 14-Hour...

Vídeo daquele show histórico... Cliquem e vejam, antes que a louca japa mande tirar ou cobre $$$$!!!

The Syn, banda psicodélica inglesa, que nos forneceu Chris Squire, o maior baixista de todos os tempos!!!
O segundo, da esquerda para a direita, no alto!!!

os hippies foram chegando no 14-Hour!!!

Embora os dois shows tenham sido triunfais, rendendo resenhas entusiasmadas e confirmando as credenciais da banda, na época em que o álbum foi lançado o talismânico líder da banda começava a agir de forma muito estranha, e o disco – que com certeza se beneficiaria de qualquer comparação direta com seu contemporâneo Sgt. Pepper – tornou-se somente mais uma lembrança do verão lisérgico de muitos ex-dançarinos adolescentes.

uma foto da sequência que foi feita para a capa do disco...

É portanto surpreendente constatar que o empresário do Floyd, Peter Jenner, informou ao Melody Maker em 15 de maio que não só a banda ‘terminava a gravação de seu novo compacto e de seu primeiro LP esta semana’, como também que o compacto ‘será lançado às pressas em 26 de maio ou 2 de junho, e o álbum sai em meados de junho’. E ele estava absolutamente atualizado – de fato, o álbum foi finalizado no domingo seguinte, com ‘Bike’, que fecha o LP, gravada em doze takes no Estúdio Três. A banda então saiu voando (bem alto) para o Sound Techniques, em Chelsea, a fim de dar os toques finais à versão do compacto ‘See Emily Play’, que eles haviam gravado no início da semana (provavelmente no dia 18).

cartaz promocional...

Em meio a toda essa atividade, parece que o Floyd ainda encontrou tempo para desfrutar de uma das poucas regalias oferecidas pelo contrato com a EMI: uma cópia em primeira mão do mais novo LP dos Beatles, Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band. Segundo June Bolan, que era assistente de Jenner e em 1967 assessorava Barrett, ‘naquela’ noite (o dia 22, supõe-se) o Floyd fez uma grande festa na casa de Jenner para comemorar o lançamento do álbum que definiria uma era e a finalização de sua própria e humilde invocação do zeitgeist.


"See Emily Play", no "Top of the Pops", 1967... 

Se a agenda maluca da banda, a sede por perfeição de Barrett e uma certa procrastinação que provavelmente refletia o aumento do uso de drogas impediram Piper at the Gates of Dawn de competir cabeça a cabeça com Sgt. Pepper, ainda assim o disco se tornaria o outro pilar essencial desse verão de sexo e drogas, transformando-se numa genuína trilha sonora do acid rock.

Piper, então, somente veio ao mundo no dia 4 de agosto de 1967, dois meses depois do lançamento de Sgt. Pepper's, o que sempre nos dava a impressão que Piper seria algo influenciado por Pepper, o que não é verdade! É justamente o contrário!!!

Meu vinil, de 1974, nacional... Os discos do Pink Floyd só começaram a ser editado no Brasil neste ano, a exceção de "Atom Heart Mother", que fez sucesso com a abertura do Jornal Nacional e foi o primeiro do Floyd a ser lançado no Brasil...

Contracapa e o desenho de Syd...

Adicionar legenda

O famoso selo HARVEST, da EMI...

O maior disco psicodélico da história abalou a Inglaterra!!!

Há 50 anos, Pink Floyd aparecia para o mundo, com seu grande líder e gênio, Syd Barrett e com seu grande disco, imperdível e obrigatório em qualquer discoteca de rock decente que se preze.

Syd, numa das últimas fotos tiradas dele, em 2003, em Cambridge...
Desencarnou em 2006, mas sua genialidade é eterna, para nós, fãs...

Bem, vamos então às nossas audições...

Hoje também nos é um dia especial, já que, finalmente, conseguimos imortalizar a nossa série em VHS de "Guerra nas Estrelas" (sim, para nós, um pouco mais velhos, é este o título... em português!), que é a primeira versão lançada nos cinemas do mundo, na época... Foi a primeira vez que fui ao cinema, em 1980, para assistir ao "Império Contra-Ataca, que para mim, é o melhor dos três, justamente porque é o que tem mais batalhas espaciais e também porque é a reafirmação de Darth Vader como o símbolo da série. Meus agradecimentos à minha esposa, que me incentivou a imortalizá-la e à Ivete e seu marido, que tornaram isso possível...





Agora, vou armar um receiver Marantz "coringa" aqui na sala, com duas caixas acústicas bem "básicas", e desfrutar do melhor som estéreo da Trilogia recém digitalizada para, logo mais, darmos início a nossa sessão de super cinema!!!

Olhem quem irá figurar nesta noite, em nossa sala, com seus olhos azuis e som aveludado, para transmitir com fidelidade absoluta a respiração de DARTH VADER!!!

Antes, claro, Syd Barrett e sua nave pedem passagem... Vamos embarcar e ver para qual galáxia ou planeta ele vai nos levar, antes da "guerra nas estrelas"?...

Até a próxima viagem, em Magical Mystery Tour...50 anos!!!!