Voltamos nesta tarde de feriado para conversarmos um pouco sobre as eleições gerais que acontecem aqui no Brasil e, particularmente, sobre as opções que temos.
O Brasil, para quem me lê - e são muitos! - do exterior, tem pouca tradição democrática. Se contarmos os períodos de sua história onde houve liberdade democrática dá nos dedos das mãos!!!
Este período em que vivemos é, com certeza, o mais longo de nossa história. Desde 1985 o Brasil vive em Estado Democrático de Direito, onde as garantias dadas por sua Constituição (de 1988) são preservadas: liberdade de expressão, etc.
Começo com esta pequena introdução e sem me alongar muito porque os livros estão aí e a "Internet" também e podem informar a vocês bem mais do que minha memória.
Mas tem um problema mal resolvido no nosso país e que sempre volta à tona. Sabemos que quando não resolvemos um problema, ele volta, até que o resolvamos. É mais ou menos assim, na vida particular de cada um, igualmente na vida coletiva.
Este problema - e que problemão! - é a DITADURA MILITAR, que esteve por entre nós de 1964 até 1985.
Trata-se do nosso passado que não se resolveu. Para quem me lê do exterior vou explicar: Há como um quê de clima nostálgico numa parte da população do Brasil, que clama pela volta daqueles valores ditatoriais, com a complacência da mídia e dos formadores de opinião, já que estes são formados por pessoas jovens e que não viveram um regime ditatorial e "querem pagar para ver", como dizemos aqui no Brasil.
Nenhum dos ditadores - TODOS ELES - no Brasil sofreu qualquer sanção internacional digna de nota por conta dos crimes contra a humanidade (e foram muitos, mas muitos crimes) cometidos pelo regime. Diferentemente dos nossos países irmãos - mais notadamente a Argentina e o Chile - aqui, ditador tem fama de "honesto" e "gente boa". São idolatrados por parte do povo (sim, aqueles que não viveram numa ditadura).
Por que lhes digo isso? Porque o que está em jogo, hoje, no Brasil, às vésperas do 2º turno das eleições presidenciais, é justamente isso: as liberdades democráticas, conquistadas às duras penas por muitos, mas muitos que derramaram o próprio sangue para que, por exemplo, eu pudesse hoje estar escrevendo a vocês e o outro projeto, aquele que lhes disse acima, isto é, a nostalgia.
Para vocês terem uma ideia, o clima no país, que sempre bradou para o mundo como o "país pacífico", ou "povo dócil", "simpático", "acolhedor", o clima é de ÓDIO. Digo o clima, mesmo, porque dá para sentirmos no ar o ódio que exala da turba ensandecida.
Sim, ÓDIO. E o mais difícil de combater de todos eles: Ódio de classe. Vou explicar: Tudo começou com a eleição de LULA, líder operário, que fez um governo muito bom, do ponto de vista social. Elegeu sua sucessora, Dilma Roussef, que deu continuidade e tentou aprofundar as mudanças sociais iniciadas por Lula.
Isso, evidentemente, gerou uma reação (de reacionário, mesmo) de parte da população que não suporta ver os pobres tendo a mesma oportunidade que os ricos. E muitos pobres não gostam que outro pobre possa ter a mesma oportunidade dos ricos, já que, como se sabe, muitos pobres projetam nos ricos aquilo que eles gostariam de ser e acabam por apoiando os ricos. É por isso que muitos analistas internacionais não entendem como se dão as eleições no Brasil. Os poderosos do país usam esses pobres como massa de manobra para manterem-se no poder do país. É a tal luta de classes, tão antiga como a história, mas que no Brasil ainda insiste em perdurar.
De resto, ódio às chamadas "minorias" (pobres, gays, índios, negros, mulheres) é consequência da causa ÓDIO DE CLASSE.
Com o acirramento da luta de classes (é um velho jargão... Alguns me entenderão, mas que serve como uma luva no Brasil), acirrou-se também o ódio contra essas "minorias" (pobres, negros e mulheres são maioria no Brasil) e um candidato encarnou esse desejo coletivo de ódio e avocou para si ser o porta voz, catalisador e canalizador desse ódio... Sim, é aquele que Roger Waters mostrou em seu show por aqui, na quarta-feira última, em nosso estádio (do nosso Palmeiras), e que anda aparecendo para vocês aí, no exterior.
Sim. Ele representa tudo isso. É verdade.
No Brasil, existe uma parcela da população extremamente conservadora e reacionária, fruto da nossa colonização e o modo com que ela se deu (capitanias hereditárias, etc.).
Traçar-lhes um perfil dessa parte da população não é difícil, para que todos vocês entendam: são extremamente religiosos (protestantes e católicos, não importa) e insuscetíveis de mudanças... Tem extrema dificuldade de convívio com o diferente (basta ver como são tratados os imigrantes - pobres - dos outros países vizinhos e do Haiti) e são tradicionalistas.
Houve um movimento, durante os anos 1930 no Brasil que se chamou INTEGRALISMO, fortemente influenciado pelo nazismo e pelo fascismo.
Essa geração de agora é herdeira desse movimento de extrema direita. Passa e perpassa de geração em geração.
Então, quando surge alguém que consegue aglutinar todo esse ódio, esse alguém desponta e chama a atenção - inclusive de vocês, aí no exterior... Não é coisa de latino-americano, não... É coisa GRAVE, mesmo, de Hitler , Mussolini e Hiroyto...
Então, o ódio é a grande "moda" do Brasil hoje. Disseminado a quatro cantos do país, correu-lhe como um rastilho de pólvora, como na Alemanha dos anos 1930... E, tal como na Alemanha, ganhou a simpatia de muitos... Todos sabem que Hitler subiu ao poder pelo voto democrático. Logo...
Explicado, então, a situação de nosso país, dá para vocês terem uma ideia mais aclarada de nosso momento... Talvez, no dia primeiro de janeiro do ano que vem eu não possa mais estar escrevendo-lhes...
É isso que está em jogo no Brasil: democracia X ditadura. E, por ironia do destino, será decidido no próximo dia 28 de outubro, por eleição democrática, o nosso destino... Não lhes digo "o nosso destino daqui a 4 anos", porque a democracia, no Brasil, corre sério risco, sim. Risco REAL.
Vou colocar um vídeo que vi hoje no "Facebook" de Arnaldo Antunes, ex integrante de uma banda de rock que fez muito sucesso nos anos 1980 aqui no Brasil, chamada TITÃS... Hoje ele não mais grava com a banda e participa de projetos artísticos com diferentes artistas.
Acabei vendo este vídeo através de outro Arnaldo - o Baptista - sim, Arnaldo Baptista, dos Mutantes...
Deem uma olhadela e, se possível, divulguem para o mundo todo...
Gostaria de estar falando com vocês - falando de Arnaldo Baptista - do Tropicalismo, que completa 50 anos este ano, mas a situação impõe essas letras de luta e de resistência. Tal como as de Arnaldo Antunes...
https://www.facebook.com/lu.ar.79/videos/2067756876613931/
Por um mundo mais generoso, para todos. Boa sorte, Brasil. Você vai precisar...
Que Deus nos proteja e nos guarde em Espírito.
Saudações Beatlemaníacas...