Bom dia a todos!
Voltamos para
conversarmos acerca dos 50 anos do desenho animado “Yellow Submarine”,
completados agorinha, que estreou nos cinemas no mês de julho, mais
precisamente no dia 17, no London Pavillon, em Londres (onde lá estive em 2014!!!).
E, claro, também, pelas
comemorações dos 50 anos do single de maior sucesso da carreira fonográfica dos
Beatles: o compacto “Hey Jude/Revolution”, que fez aniversário nessa semana, no
dia 30 de agosto.
Meu DVD do Yellow Submarine... Chiquérrimo!!! |
Bem, estava conversando
com minha esposa, nesta semana, justamente sobre esses dois lançamentos e de
como estamos envelhecendo... E as coisas dos Beatles, também. E os anos 1960
estão cada vez mais ficando para trás...
Encartes e desenhos maravilhosos completam a caixinha onde o DVD vem embalado... |
A primeira vez que eu
assisti ao filme “Yellow Submarine” foi na “Sessão da Tarde”, da Globo (eca!),
nas férias de julho de 1983, numa dessas raras vezes em que eu estava dentro de
casa, num dia ensolarado. Provavelmente ou eu não tinha linha, ou não tinha
quadrado, ou não tinha vento para estar empinando! E também era no começo da
tarde, logo não tinha ninguém disponível para jogar bola!
A Premier de Yellow Submarine, em 17 de julho de 1968 no London Pavillon... Os Beatles ainda atraíam multidões, até para assistir a um desenho animado sobre eles... |
... E hoje... ou quase ontem!!! Essas fotos são de 2014, quando lá estive!!! |
Fachada do antigo London Pavillon, hoje London Trocadero, um grande shopping center, onde comprei dois pôsteres dos Beatles! Saudades!!!! |
Lembro-me que minha irmã
Elaine estava em férias e ela sabia que iria passar na “Sessão da Tarde” e me
avisou... Aí então, assistimos ao filme! Ainda em preto e branco, porque, nessa
época, a gente não tinha TV em cores.
Já no começo dos anos
2000 adquiri a versão do filme em VHS, lá na Galeria do Rock. No mesmo dia
comprei o “Magical Mystery Tour”, também em VHS.
Há alguns anos atrás pedi
o filme em DVD, devidamente remasterizado, no amigo secreto de minha família.
Um dos meus sobrinhos presenteou-me com ele. Show de bola!
O FILME
Quando Sgt. Peppers e
Magical Mystery ficaram para trás, os Beatles, ao retornarem da Índia, foram
tratar dos negócios da Apple e, no estúdio, imediatamente gravar novas canções
que haviam escrito por lá, e que depois resultou no Álbum Branco.
Nessas idas e vindas os
Beatles se envolveram no projeto do filme, uma animação de longa-metragem,
realizado logo após Magical Mystery.
Eles ficaram felizes em
se ver como personagens de desenho animado, o que os animou a fazer
contribuições para a narrativa e mais quatro músicas originais para o filme.
O roteiro foi feito por
uma equipe, da qual Erich Segal, autor do romance “Love Story” fazia parte. “Yellow Submarine” é uma
fantasia psicodélica, que fala de um reino feliz chamado Pepperland, que é
dominado pelos malignos Blue Meanies. Os Beatles saem de Liverpool para
salvá-lo em um submarino amarelo e acabam dominando os Meanies pelo poder do
amor e da música.
Os Beatles curtiram pacas o longa... E se esqueceram, pelo menos um pouco, das brigas entre eles, que começavam a rolar... |
Gosto muito do personagem
“Hilary” (cujo nome é Jeremy Hilary Boob!!!). Acho ele bonitinho!
A trilha sonora do filme
somente foi lançada em 17 de janeiro de 1969, para não coincidir com o
lançamento do Álbum Branco. Em breve falaremos dela, claro, de seus 50 anos!
Hilary Nowhere man!!!.. |
HEY JUDE/REVOLUTION
Bem, vou contar a
história de “Hey Jude” para aqueles que não a conhecem. E, de quebra, de
“Revolution”, também!
Quanto ao single,
trata-se do mais famoso - porque mais vendido - da carreira dos Beatles. Até o
fim de 1968 já tinham sido vendidas mais de 6 milhões de cópias.
Também é a primeira vez que o selo da Apple aparece num disco dos Beatles. Digamos que é o single de estreia da Apple, que perdurou até o final dos anos 1970, lançando os singles, ou músicas solos dos quatro ex-membros da banda.
Meu compacto, orgininalíssimo, de época... aliás, trata-se de um exemplar raríssimo, já que o selo que se popularizou, aqui no Brasil, foi o selo estrela... ESTE É RARO, MESMO!!! |
Para falarmos de Hey
Jude, no entanto, é necessário que voltemos um pouco na história e falemos também um pouco
sobre a vida particular de John Lennon.
Aí está o meu exemplar, com o selo "estrela" da Odeon... também de época... |
Como já lhes disse em
outras blogagens, John era casado com Cynthia Powell, desde 23 de agosto de
1962, por tê-la engravidado. Conheceram-se na Liverpool College of Art (onde lá
estive em 2014!). Dessa relação nasceu o primeiro filho de John, Julian Lennon,
em 8 de abril de 1963 (esse povo do dia 8 de abril não é fraco, não!!!).
Foto de 1966, Julian com três anos... |
Colégio onde John e Cynthia estudavam, em Liverpool, onde lá estive em 2014. |
Apesar de ser uma relação
conturbada, com as constantes viagens de John junto com a banda em meio à
Beatlemania e, principalmente, no começo da carreira, era, ao mesmo tempo, um
relacionamento muito discreto, para a época e por quem se tratava, muito em
função mesmo de Brian Epstein, que não gostou muito do casamento, porque ter um
Beatle casado poderia afastar parte das fãs, o que realmente não aconteceu.
Apesar disso, Brian foi quem pagou o casamento dos dois no Cartório (onde
também lá estive!!!) e ainda cedeu seu apartamento para que eles pudessem morar
no começo de casados (Trata-se de um lugar no alto de Liverpool, muito bonito,
onde também lá estive em 2014...).
1963... |
Apartamento que Brian Epstein cedeu à John e Cynthia, quando recém casados, na Hope Steet, em Liverpool... Lugar muito bonito, por sinal... |
Cynthia era uma pessoa
muito discreta e não se tratava propriamente de uma fã, porque conheceu John
bem antes de ele se tornar o que todos conhecemos hoje. Quem quiser saber mais
a respeito, dê uma lida no livro que ela escreveu, que se chama “John”.
Imitando os personagens do seriado de TV que John gostava muito, chamado "Goons"... |
Bem, o relacionamento dos
dois não ia muito bem, principalmente depois que John “descobriu” o LSD e
insistia para que Cynthia experimentasse, além, claro, de suas “escapulidas”,
aqui e ali.
Ó eu dentro do Philarmonic, naquele 3º dia de viagem a Liverpool, "boteco" este onde John costumava frequentar para comer fish and chips... Adivinhem o que comemos?... |
No dia 9 de novembro de
1967 John conhece Yoko Ono, ao visitar a Indica Art Gallery, em Londres. É bom
que vocês, que me leem, comecem a se acostumar com John e essa relação com as
artes, já que ele era estudante de artes em Liverpool. Então não há nenhuma
surpresa em vê-lo visitando uma galeria. A “surpresa” foi ter ficado
impressionado com o que viu. Sim, “surpresa”, porque é preciso estar muito, mas
muito chapado de LSD para ficar impressionado com o que viu...
1967... |
John estava mergulhado
num torpor, em meados de 1967, que estava se cansando da vida suburbana que
levava junto de Cynthia e Julian. “Good Morning, Good Morning”, de Sgt. Peppers
conta um pouco e em parte dessa apatia. Já falamos um pouco disso na nossa
blogagem do disco e de como Paul tomou conta, literalmente, do disco e da
banda. Deem uma olhadela por lá!
Cynthia e Julian em 1975... Acima, nos anos 2000... |
Enfim, quando os Beatles
voltaram da Índia John e Paul foram aos Estados Unidos para promover a Apple,
mais ou menos no dia 11 maio de 1968, John comunicou a Cynthia que ela não iria
com ele para esta viagem.
Um pequeno parênteses
para que contemos, também, um pouco da história
particular de Paul, já que isso redunda em muitas canções que ele
escreveu antes e depois desse período em que estamos conversando.
Paul tinha uma namorada
chamada Jane Asher, uma atriz em começo de carreira no início dos anos 1960. É
para ela e inspirada nela que Paul escreveu as mais belas canções dos Bealtes:
“All My Loving”. “Yesterday”, “And I Love Her”, só para citar algumas.
Paul, Jane Asher e Julian, em 1967... |
No dia 15 de maio de
1967, entretanto, Paul conhece a fotógrafa profissional Linda Eastman, no
London’s Bag O’Neils Club. Ele a convida para a festa de lançamento de Sgt.
Peppers. Linda faz várias fotos e fica ao lado dele o tempo todo. Enquanto
isso, Jane Asher estava nos EUA, em turnê por conta de sua carreira.
Apesar disso, Paul
entrega a Jane uma aliança de diamantes, na noite de Natal de 1967, anunciando
oficialmente o noivado.
Sede da Prefeitura de Liverpool, onde uma multidão de mais de 500.000 pessoas estavam presentes para saudar os Beatles, em 1963, no retorno deles a Liverpool, depois da fama... |
Jane e Cynthia foram à
Índia acompanhar os maridos, fato que já descrevi aqui no blog. Então, na volta
e na viagem de negócios, Cynthia fica para trás. E Paul acaba se encontrando
com Linda, mais uma vez, nos Estados Unidos e recebe dela uma foto ampliada dele
abraçado com a filha dela, Healther.
Na volta, porém, a
história da maior banda de todos os tempos começa a mudar. E a banda começa a
acabar...
John, sozinho em Londres
(Cynthia viajou com Julian depois que John a dispensou) convida Yoko Ono para
ir a sua casa em Kenwood, no dia 19 de maio de 1968. Eles gravam música
experimental no estúdio de John e passam a primeira noite juntos. É o começo do
fim.
Cartório, em Liverpool, onde John e Cynthia se casaram..., na Rodney Street... |
Ao chegar em casa, dois
dias depois, Cynthia descobre que Yoko (que mandava toneladas de cartões postais
e cartas para John na Índia, a despeito da presença de Cynthia por lá) estava
por lá e decide terminar de vez o casamento com John.
Já Paul estava em Los
Angeles, à essa época, para fugir, literalmente, da participação da gravação de
“Revolution 9”, que aliás, não se trata de uma música, inventada por John e
Yoko, em meio às gravações do Álbum Branco. Linda descobre que ele estava por
lá e imediatamente parte de Nova York para se encontrar com ele. Ele fica feliz
e os dois vão juntos em uma reunião com altos executivos da Warner e depois ele
retorna a Londres.
Aliás, na Premier de
Yellow Submarine, onde se encontravam Mick Jagger e Donovan, Paul já estava
desacompanhado e a imprensa não deixou de tirar uma “casquinha” de John,
perguntando a ele o paradeiro de sua esposa, ao verem Yoko Ono.
No dia 20 de julho, logo
após a estreia do filme, é a vez de Jane Asher anunciar o fim de seu noivado
com Paul, numa entrevista para a BBC. Ela já havia pego ele em flagrante com
uma fã americana com quem ele tinha amizade (Francie Shwartz), alguns dias
antes, na casa deles. As fãs, do lado de fora (sim, elas ficavam fazendo
“vigília”, tanto na porta da casa deles, quanto em Abbey Road) tentaram
avisá-lo da chegada de Jane, mas ele não acreditou. Ela encerrou o noivado ali
mesmo.
Cynthia, Jane Asher e Maureen, com os três, em 1967... |
Assim chegamos a “Hey
Jude”, que começou a ser gravada em 29 de julho de 1968.
LETRA
Quando John e Yoko foram
morar juntos em Montagu Square, no centro de Londres (apartamento que era de
Ringo e ele cedeu-o à dupla), era de se esperar que, pelo menos, os trâmites do
divórcio entre John e Cynthia começassem. Então, como a coisa não se
desenrolava, Cynthia e Julian continuaram a morar em Kenwood, no subúrbio.
Com sua capa, original... |
Paul sempre teve um bom
relacionamento, tanto com Cynthia, quanto com Julian, que, na época, tinha
apenas 5 anos. Então, para demonstrar apoio à Cynthia e à Julian, durante o
imbróglio da separação de John, ele foi dirigindo de sua casa em St. John’s
Wood até Weybridge levando uma única rosa vermelha. Nesse dia, com a incerteza
sobre o futuro de Julian em mente, ele começou a cantarolar “Hey Julian” e
improvisar uma letra sobre o tema do conforto e da segurança (próprios, aliás,
dele). Em algum momento, durante a viagem que leva cerca de uma hora, “Hey
Julian” se tornou “Hey Jules”, e Paul criou o trecho “Hey Jules, don’t make it bad, take a sad song and make it
better”. Foi só depois, ao desenvolver a letra, que ele transformou “Jules” em
“Jude”, por achar que “Jude” soava mais forte. Ele já tinha gostado do nome
“Jud” quando viu o musical “Oklahoma”.
John, Julian e a tia de John, Mimi, em 1967.. |
A melodia conduziu a
letra, o som teve prioridade sobre o significado. Um verso em particular – “the
movement you need is on your shoulder” – deveria ser apenas um tapa-buraco.
Quando Paul tocou a música para John, comentou que aquela parte precisava ser
substituída e que ele parecia estar cantando sobre o seu papagaio. “Esse
provavelmente é o melhor verso da música”, disse John. “Deixe aí. Eu sei o que
significa.”.
Paul e Julian, em 1967... |
JULIAN LENNON
Julian cresceu conhecendo
a história por trás de “Hey Jude”, mas só em 1987 ouviu os fatos diretamente de
Paul, quando o encontrou em Nova York. “Foi a primeira vez que nós sentamos e
conversamos. Ele me contou que vinha pensando na minha situação, todos aqueles
anos atrás, no que eu estava passando e pelo que eu ainda teria de passar no
futuro. Paul e eu passávamos bastante tempo juntos – mais do que meu pai e eu.
Talvez Paul gostasse mais de crianças na época. Tivemos uma grande amizade, e
parece haver muito mais fotos daqueles tempos em que estou brincando com Paul
do que com meu pai”, conta Julian.
“Eu nunca quis saber
realmente a verdade sobre como meu pai era e como ele era comigo”, ele admite.
“Mantive minha boca fechada [até hoje]. Muita coisa negativa foi dita sobre
mim, como quando ele disse que eu tinha saído de uma garrafa de uísque em um
sábado à noite. Coisas assim. É muito difícil lidar com tudo isso. Eu pensava,
cadê o amor nisso tudo? Foi muito prejudicial psicologicamente, e por anos isso
me afetou. Eu costumava pensar, como ele pode dizer isso sobre o próprio
filho?”.
John e Julian, em 1968... |
Julian não se atém à
letra de “Hey Jude” há algum tempo, mas acha difícil fugir dela. Ele está em um
restaurante e a música toca, ou ela surge no rádio do carro quando está
dirigindo. “Ela me surpreende toda vez que a escuto. É muito estranho pensar
que alguém escreveu uma música sobre você. Ainda me emociona”.
A MÚSICA
Começou a ser gravada,
como já disse alhures, em 29 de julho de 1968, tendo sido gravado seis “takes”
naquele mesmo dia.
Aqui, também, começa uma
grande briga entre dois membros da banda, algo que foi um dos motivos da
separação do grupo e que perdurou até o início dos anos 1990, amenizada apenas
para o projeto “Anthology”, que, aliás, é nítida a expressão de distanciamento
e nesgas de mágoa de George para com Paul.
1967... |
Quando Paul começou, no
estúdio, a tocar a música no piano, George veio com um riff de guitarra depois
de cada frase cantada. Paul não gostou e o advertiu e George, a partir daí,
ficou furioso com ele. Claro que era algo como se diz hoje em dia.... “a cereja
do bolo”, ou a gota d’água: George estava se cansando de ser um Beatle e de
tudo o que isso envolvia, a partir do momento em que conheceu a filosofia
hindu. Muito em função também de como suas composições eram sistematicamente
rejeitadas por John e Paul, principalmente este último, já que coincidiu sua
nova liderança da banda e o aumento de criatividade de George.
"Hey Jude" no programa de TV "The Frost Programme", 8 de setembro de 1968... |
Aliás, George foi o
primeiro a deixar a banda, no começo das gravações do Álbum Branco, num acesso
de raiva que jamais acabou. Era, com certeza, o Beatle mais descontente.
E depois foi Ringo, na
gravação de “Back in the USSR”, ao ter suas mãos seguras por Paul, ensinando a
ele como devia tocar bateria na música, que deixou a banda, saindo xingando
todo mundo. Paul acabou tocando a bateria nesta música.
Noite memorável... há 50 anos... |
Ringo estava fora da
banda e somente em 5 de setembro de 1968 foi que Paul foi até a casa dele
convencê-lo a voltar. Quando Ringo voltou ao estúdio, encontrou sua bateria
toda enfeitada de flores.
Na noite seguinte, então,
eles continuaram a gravação, trabalhando nos “takes” 7 ao 23 e George não
participou, ficando na sala de controle, do lado de fora.
George mudou muito, depois que conheceu o LSD e a cultura indiana... Ficou sério demais, bem longe do desta foto, de 1965.... |
No dia 31 de julho eles
foram ao Trident Studios, aproveitar a mesa de oito canais, novidade na
Inglaterra, na época, tendo sido completada em primeiro de agosto, com Paul
colocando baixo, voz e mais as vozes dos outros Beatles. Após, uma orquestra
foi adicionada, tendo sido os músicos chamados para acompanhar com palmas.
Os Beatles ainda fizeram
um vídeo promocional da música no programa “The Frost Programme”, que foi ao ar
na Inglaterra no dia 8 de setembro de 1968. É o vídeo que comumente assistimos
por aí, no Youtube, em DVD, etc., e que recentemente, por ocasião do lançamento
do DVD duplo “One”, foi remasterizado, com áudio muito próximo de excelente.
É o lançamento mais
vendido de uma gravação de todos os tempos. Cerca de oito milhões de cópias no
mundo todo.
REVOLUTION
O Verão do Amor (junho de
1967) foi seguido pela Primavera da Revolução (Primavera de Praga – 1968); o
assassinato de Martin Luther King; e em março de 1968, milhares de pessoas
marcharam em frente à Embaixada Americana, em Londres, para protestar contra a
guerra do Vietnã. Em maio, tivemos o “maio de 68” em Paris, objeto anterior
desse blog. Ao contrário de Mick Jagger, que participou de uma marcha, John
assistiu tudo pela televisão, quando Cynthia estava na Grécia (naquela viagem
que lhes contei alhures). Ele a começou na Índia e a terminou justamente neste
período, fortemente influenciado por tudo à sua volta.
"Revolution", o lado "B" de "Hey Jude".... |
Ele queria dizer algo
respeito de tudo o que estava acontecendo no mundo, longe da influência (histeria) dos
fãs.
Não era a canção de um
revolucionário, e sim de alguém pressionado por um meio a declarar sua aliança.
É que John era o Beatle mais consciente politicamente e mais esquerdista e
alguns grupos achavam que ele devia apoio às suas causas.
A música foi sua resposta
a estes grupos, que lhes informava que, apesar de compartilhar com o desejo de
mudança social, ele acreditava que a única revolução que valia a pena surgiria
da mudança interna de cada um, em vez da violência revolucionária. Entretanto,
ele nunca teve certeza de sua real posição e limitou suas apostas na versão
lenta da música lançada no Álbum Branco (“Revolution I”).
Depois de admitir que a
destruição pode vir com a revolução, ele cantou “you can count me out/in (“Não
conte/Você pode contar comigo”), claramente incerto de qual lado seguir. Na
versão mais rápida, a do single, ele omitiu a palavra “in”.
"Revolution" sendo executada semi-ao vivo... |
Essa omissão causou furor
na imprensa alternativa da época. “Um grito de medo lamentável de um burguês
mesquinho”, era uma das manchetes. Já a revista “Time” (A “Veja” dos EUA), do
“estabilishment”, dedicou um artigo inteiro a respeito da música, dizendo que
“criticava ativistas radicais mundo afora.”.
Numa dessas publicações
alternativas houve uma troca de farpas entre John e um estudante expoente da
época, outro John, mas John Hoyland, que disse: “Essa gravação não é mais
revolucionária que Mrs. Dale’s Diary [novela de rádio da BBC da época]. Para
mudar o mundo, precisamos entender o que há de errado com ele. E depois,
destruí-lo. Impiedosamente. Não é crueldade nem loucura. É uma das formas mais
intensas de amor. Porque o que estamos combatendo é o sofrimento, a pressão, a
humilhação – o imenso custo da infelicidade causado pelo capitalismo. E todo
‘amor’ que não se oponha a essas coisas é meloso e irrelevante. Não existe uma
revolução polida.”.
Em sua resposta, John
disse o seguinte: “Não me lembro de ter dito que ‘Revolution’ era revolucionária.
Dane-se Mrs. Dale. Ouça as três versões de ‘Revolution’ – 1,2 e 9 – e depois
tudo de novo, caro John (Hoyland). Você diz ‘para mudar o mundo, precisamos
entender o que há de errado com ele. E, depois, destrui-lo. Impiedosamente’.
Você obviamente está em um movimento de destruição. Vou dizer o que há de
errado com ele – as pessoas. Então, você quer destruí-las? Impiedosamente? Até
que você/nós mude/mudemos a sua /nossa cabeça – não há nenhuma chance. Cite uma
revolução bem-sucedida. Que fodeu o comunismo, o cristianismo, o budismo, etc.?
Cabeças doentes, e nada mais. Você acha que todos os inimigos usam um
distintivo do capitalismo para que você possa atirar neles? É um tanto ingênuo,
John. Você parece achar que é só uma luta de classes.”.
Ao ser entrevistado, logo
após, por jornalistas da revista, John disse: “Tudo o que estou dizendo é que
acho que vocês devem fazer isso mudando a cabeça das pessoas, e eles estão
dizendo que devemos destruir o sistema. No entanto, essa coisa de destruição do
sistema existe faz tempo. O que ela conseguiu? Os irlandeses fizeram, os russos
fizeram, e os franceses fizeram. Aonde isso os levou? A lugar nenhum. É a velha
história. Quem vai comandar essa destruição? Quem vai assumir o controle? Vão
ser os maiores destruidores. Eles vão chegar primeiro e, como na Rússia, vão
assumir o controle. Eu não sei qual é a resposta, mas acho que são as
pessoas.”.
É uma posição que John
manteria, até a sua morte. Em 1980, em entrevista para a revista “Playboy”, ele
disse que “Revolution” é a expressão de sua posição política: “Não contem
comigo se for para a violência. Não esperem me ver nas barricadas, a não ser
que seja com flores.”.
A GRAVAÇÃO
A música, até então, é a
mais “pesada” dos Beatles, sendo superada apenas por “Helter Skelter”, “Yer
Blues” e “Birthday” (esta, nem tanto), ambas do mesmo período, que foram
inclusas no Álbum Branco.
Eles adicionaram o
“fuzzer” diretamente entre na mesa de som e o amplificador da guitarra, com os
ponteiros de capitação (VU’s) no máximo.
No dia seguinte, gravaram
mais dez “takes”, incluindo palmas e efeitos de bateria, incluindo palmas e
efeitos de bateria, bem como mais distorção de guitarras. John adicionou os
vocais e o berro introdutório.
Já no dia 11 de julho
foram adicionados o baixo de Paul e o piano elétrico tocado por John Hopkins. A
gravação foi finalizada somente no dia 13 de julho, com mais linhas de baixo e
guitarras tocadas pela dupla Lennon/McCartney.
CLIPE
O clipe que vemos nos
VHS’s, DVD’s e Youtubes mundo afora é o mesmo que foi gravado semi ao vivo,
também para o programa de David Frost, já citado acima, mas foi ao ar antes de
“Hey Jude”, no dia 4 de setembro de 1968.
Eles ainda incorporaram
um coro “shoo-be-doo-waah” para essa apresentação, na voz de Paul e George, que
é o mesmo coro da “Revolution I” do Álbum Branco.
Muito bem. Terminamos por aqui. Vamos voltar em breve para dar uma pincelada nos 50 anos do LP "Tropicália, ou Panis et Circenses", o manifesto do Tropicalismo, que nos fará entender o que também acontecia por aqui, enquanto os Beatles caminhavam para o seu fim inevitável e o Brasil para o AI-5... Até lá!!!
Muitas e muitas saudades!!!1 |
Saudações Beatlemaníacas!...