domingo, 29 de julho de 2018

THE BEATLES: HÁ 50 ANOS, NA ÍNDIA... 1968: UM ANO DE MUDANÇAS.


Boa tarde a todos!

Estamos de volta, após uma longa pausa, para falarmos do presentão que ganhei de aniversário – 8 de abril – e, claro, do primeiro single dos Beatles pós era psicodélica: Lady Madonna/The Inner Light, lançado no dia 15 de março de 1968, há exatamente 50 anos e 4 meses atrás.

Bem, finalizando os 50 anos de Sgt. Peppers, tive a oportunidade de adquirir os lançamentos comemorativos mais importantes deste icônico disco.


O “box” com 4 CD’s, um DVD e um BLUE-RAY, que acompanham um livro sensacional, com uma réplica do cartaz que John usou para compor "Being of the benefit of Mr. Kyte" (maravilhoso!!!), uma réplica do encarte promocional de lançamento do disco, em junho de 1967 e, claro, não podia deixar de faltar, o encarte para recortar das insígnias do sargento pimenta.


A caixa vem como se fosse a caixa original do tape do disco, da EMI... Lindo!

De quebra, comprei ainda o disco DUPLO com uma mixagem e estéreo S E N S A C I O N A L, no disco um e no disco dois uma versão em MONO remasterizada, tal como fora gravada em 1967!!!






O livro, que conta a história de música por música do disco e todo o contexto social, político, etc., do ano de 1967...

CD 1: Uma nova mixagem em estéreo feita pelo filho de George Martin, Giles Martin. Trata-se da mesma mixagem feita no vinil, que é vendido à parte, mas como o toque digital, já que o vinil permanece analógico. 

Vinil, estéreo e mono... ESPETACULAR!!!

Esta versão ficou, como já disse, sensacional. Mas dá de dez a zero nas versões “era do CD bate estaca” dos anos 1980/1990. O equilíbrio entre os vocais e os instrumentos, parece-me, aqui, perfeito, salvo melhor juízo;


CD 2: Aqui começam a aparecer as versões/sobras de estúdio das composições feitas para o disco, acrescidas, claro, das sessões do single "Penny Lane"/"Strawberry Fields Forever". Possui o “takes” 8,9,10 e 11 de "A Day in the Life", que são simplesmente DIVINOS!!!

Réplica do cartaz que deu origem a Benefit of  Mr. Kite!

A única ressalva que faço é a de que poderiam disponibilizar MAIS DIÁLOGOS entre eles no estúdio, como no "Live at BBC". Aposto que a EMI está guardando para lançamento no futuro (não põe todos os ovos numa cesta de uma vez, mesmo!);

Réplica do cartaz promocional do disco, da época!

CD 3: Continuação do CD 2, com destaque, claro, para "Lucy in the Sky with Diamonds", com três “takes” espetaculares. A gente fica com a sensação de que faltam muitos, mas muitos “takes” “alternativos” dessas sessões... Um disco que demorou mais de quatro meses para ser feito com certeza tem muita, mas muita “sobra” de estúdio...


Cd's e DVD's vem dentro de um encarte com a capa e contracapa do álbum...

CD 4: Contém a versão MONO de 1967 (já lançada na caixa MONO, que também tenho), com bônus “tracks”: "Penny Lane" e "Strawberry Fields" aparecem em sua primeira versão MONO; a primeiríssima versão em MONO de "A day in the Life" (lindíssima!); uma versão em mono de "Lucy in the Sky" (na verdade o “take” 11); a primeira versão em MONO de "She’s Leaving Home" (ainda com a velocidade um pouco acelerada) e, finalizando, uma versão especial, em MONO, para a Capitol Records, de "Penny Lane".


DVD/BLUE RAY: Trata-se da versão, na íntegra, do documentário que passou na televisão, por volta de 1992/1993, intitulado de “The making of Sgt. Pepper’s”. Simplesmente espetacular. Aposentei meu VHS!!!


Quanto aos discos, nem preciso dizer que são de cair o queixo. Todos sabem minha predileção pelos vinis, mormente se a banda ou o artista grava em analógico, como é caso dos Beatles.

A capa holográfica...

Como se vê, passei ótimos momentos, com minha esposa, ouvindo essa maravilhosa caixa!!!

MAIO DE 1968: MAIS MUDANÇAS

Paris, 2 de maio de 1968: Começa a revolta estudantil contra o sistema conservador, no qual a sociedade vivia à época.

Champ Elysées, maio de 1968...


 Estudantes da Universidade de Nanterre começam um protesto contra a divisão, nos alojamentos, entre homens e mulheres. Na verdade, o que estava em jogo era o contexto: a revolução sexual, os protestos pacifistas contra a guerra do Vietnã, a luta das mulheres, negros, gays, isto é, das chamadas "minorias" por direitos civis, e claro, a própria concepção de organização social vigente estava ruindo.




Daí para uma grande manifestação de proporções internacionais (sem celulares e internet) foi um pequeno passo. Logo, toda a Paris estava banhada de cartazes e estudantes, população civil, etc. Em meio a isso, houve também uma greve geral e cerca de 10 milhões de trabalhadores franceses cruzaram os braços...

Ocupação da Sorbounne...



Havia grande insatisfação na juventude da época e esses protestos acabaram canalizando toda essa revolta contra a ordem conservadora do pós guerra, não só em Paris, mas na Europa como um todo. 


Diríamos que simplesmente o mundo seria tal como os anos 1950, do pós guerra, se não houvessem esses protestos e, claro, a contracultura, que já falamos nesse blog.  Mudanças na Arte, na Filosofia e nas relações interpessoais... Era a nova sociedade , mais solidária, coletiva, contra a sociedade de consumo e individualista (esta última vencedora, infelizmente, até os dias de hoje). Todo o movimento da contracultura, um ano e meio, dois anos atrás, anteriores a 1968 culminou nesses protestos.




Surgiram slogans que conhecemos até hoje: "Seja realista, exija o impossível", "É proibido proibir" e "Parem o mundo que eu quero descer"...



Fatos que inspiraram John a compor “Revolution”, que será o lado B do primeiro single com o selo da Apple, objeto de nossa conversa doravante.

É também um ano de mudanças nos Beatles. O “eixo de comando” do grupo estava se deslocando de John para Paul. Este último começava a dar as cartas, literalmente, em absolutamente tudo o que a banda fazia. Isso desagradou muito aos outros três, que se uniram, e Paul viu-se isolado. Situação essa que foi um dos fatores para a dissolução da banda, um ano depois, em 1969.

Parte disso começou ocorrer com a morte de Brian Epstein, em agosto 1967, com a banda toda em Bangor, quando aceitaram um convite do guru Maharishi Mahesh, para ouvir suas palestras.

A propósito, faz também 50 anos que os Beatles foram à Índia, para um curso de meditação transcendental, com o tal guru.

UMA BRASILEIRA EM ABBEY ROAD

Durante o ano de 1968, também, foi gravada uma música que viria aparecer somente em "Let It Be", dois anos mais tarde: "Across the Universe", no dia 4 de fevereiro. Aliás, neste dia, os Beatles passaram toda a tarde aprimorando a base instrumental dela. No começo da noite, porém, após uma pausa para o jantar, dedicaram-se aos vocais. Foi aí que sentiram que, pelo tom da música, eram necessários vocais em falsete. No estacionamento de Abbey Road as fãs ficavam de plantão, dia e noite. Paul foi até a porta do estúdio e perguntou a elas se alguma das meninas conseguia cantar em tom alto. Havia poucas fãs naquela noite de domingo, pois o transporte noturno em Londres era escasso. Então, com 16 anos, a brasileira Lizzie Bravo morava perto da Abbey Road e não tinha problemas com transporte. Ela cantava em corais e apresentou-se como candidata. E pediu para levar sua amiga, a inglesa Gayleen Pease, de 17 anos. As duas adicionaram vocais na frase “Nothing’s gonna change our world” e saíram. Os Beatles fizeram mais overdubs e ficaram satisfeitos.

Outro fato que também marcou esse período pré-Índia aconteceu no dia 11 de fevereiro: Os Beatles estavam em Abbey Road para filmar trechos onde estariam tocando, para fazer um novo clipe para o compacto de Lady Madonna. Paul achou que eles poderiam realmente gravar uma nova música e pediu a Lennon para trazer alguma letra. Ele veio com “Hey Bulldog” (que está na trilha sonora de "Yellow Submarine"), que foi imediatamente finalizada ali no estúdio. Detalhe: foi a primeira vez que Yoko Ono estava presente em uma gravação dos Beatles.

Aff...

Vamos falar sobre o single...

LADY MADONNA/ THE INNER LIGHT

Single lançado em 15 de março de 1968.

Trata-se do primeiro single dos Beatles pós era psicodélica, onde eles retornam ao rock and roll, com composições e produções mais simples, o que iria ditar o som da banda até o seu final, em 1969.

Compacto nacional, da minha coleção, de 1968...

Lady Madonna foi composta por Paul a partir de uma ideia de celebração à maternidade, começando com uma imagem da Virgem Maria. Porém, após, deu uma conotação bem mais abrangente, levando todas as mães em consideração.


Richie Havens (cantor que abriu o festival de Woodstock) se lembra de estar com Paul e um clube em Greenwich Village quando uma garota se aproximou e perguntou se Lady Madonna tinha sido escrita sobre os EUA. Paul respondeu: “Não. Eu estava lendo uma revista africana e vi uma africana com um bebê. Embaixo da foto estava escrito ‘Mountain Madonna’. Mas eu disse: não, Lady Madonna, e escrevi a música.”.

The Inner Light é uma composição de George, tomando como base uma cópia de Lamps of fire, uma coletânea de ensinamentos espirituais de várias tradições editada por Juan Mascaró, professor de Cambridge, especialista em sânscrito.

Com encarte, original... Foi o último com o selo ODEON, oficialmente... Apesar de que eu tenho um compacto
HEY JUDE/REVOLUTION também com esse selo, mas o original já é o da Apple...

Juan estava na plateia de um programa de televisão inlgês de David Frost, The Frost Report, que ia ao ar à noite. Neste dia, 29 de setembro de 1967, John e George eram os convidados, para falar sobre meditação transcendental.

Dessa coletânea, Juan sugeriu à George que transformasse versos de Tao Te Ching em música, em especial um poema intitulado “The Inner Light”.

The Inner Light foi a primeira composição de George a entrar num single dos Beatles e (ainda) tem em sua composição instrumentos indianos.

É interessante notar que há um período longo entre este single e o próximo – Hey Jude/Revolution, que foi lançado no dia 30 de agosto de 1968.

É que os Beatles estavam na Índia com o guru Maharishi Mahesh, a convite dele, para um curso de meditação transcendental.

No dia 16 de fevereiro, então, os Beatles começam a chegar a Rishikesh, na Ínida, para dois meses de curso de meditação. Primeiro chegaram John e Cynthia (ainda eram casados) e George e Pattie Boyd, sua esposa à época; lá já estavam Mike Love (o principal letrista dos Beach Boys), a atriz Mia Farrow e sua irmã Prudence (que ficou mundialmente famosa por John escrever uma música para ela, no Álbum Branco: “Dear Prudence”).



O guru tarado...


George e John tinham acabado de chegar...

Três dias depois chegaram Paul e Jane Asher e Ringo e Maureen. Ringo, no entanto, ficou por lá somente duas semanas, por conta da comida indiana condimentada, que poderia acarretar problemas de saúde. Sem contar o desinteresse pelo curso e as acomodações.



Pattie Boyd, George, Ringo e a irmã de Pattie, Jenny..


No dia 24 foi a vez de Paul e Jane retornarem a Londres.

Na verdade, o grande empolgado por tudo isso era George. E Lennon, só que a moda dele. Foram os últimos a deixarem o local, sendo que John saiu disparando contra o guru, acusando-o de assédio sexual nas mulheres, por lá. E ainda ficaram sabendo que o tal guru estava mesmo era interessado no dinheiro deles.

Donovan, Paul e Jane Asher...

Donovan, Mia Farrow e John...

Pressionado a explicar sua decisão de ir embora, John disse: "Bem, se você é tão cósmico, deve saber o porquê.".



O que realmente aconteceu, somente eles sabem, mas, como sempre, a confusão começou quando algumas pessoas começaram a ficar mais interessadas nos Beatles do que aprender a meditar... E os Beatles, com exceção de George, não estavam com esse entusiasmo todo. 
Cynthia Lennon...

De qualquer forma, o período na Índia é um divisor de águas na história da banda e, ao mesmo tempo, refez a paz musical, tornando-se um dos períodos mais férteis da dupla Lennon/McCartney. Ficar longe do telefone e das pressões trouxe calma e autorreflexão a todos.




Paul e Jane Asher... Acima, os demais, ainda curtindo...

Nesse período na Índia foram compostas cerca de 20 canções, entre elas “Rocky Raccoon” e “Piggies”, que formariam, no final do ano, o Álbum Branco, que aliás, tem muitas músicas acústicas, já que eles estavam apenas com violões.

OS 50 ANOS DO SELO APPLE

A marca da gravadora dos Beatles começou a ser pensada por esta época: cada um tinha uma cor de maçã de sua preferência: John queria branca; George, laranja; Ringo, azul; mas Paul, entre a vermelha e a verde, cravou na verde. E foi assim que foi escolhida a famosa maçã da Apple.

O famoso selo... 50 anos...

Eles tinham acabado de voltar da Índia. Já no dia 11 de maio, dia da partida a Nova York para promover o novo selo, John comunica a Cynthia que ela não iria com ele nesta viagem. Aliás, o tempo em que ambos estavam na Índia, John recebia toneladas de cartões postais de Yoko e os respondia, a despeito da presença de Cynthia a seu lado... Era o começo do fim...

Como vimos, 1968 foi um ano de grandes mudanças...

Bem, vamos nos preparar para escrever sobre Hey Jude/Revolution, porque este foi single de maior vendagem da história fonográfica dos Beatles.

E depois, claro, como estamos no meio de 1968, vamos falar sobre o Álbum Branco, ou apenas o álbum “The Beatles”, lançado em 22 de novembro de 1968. Depois desse disco, nuvens negras estavam pairando no ar, de lá e de cá, já que também teremos os 50 anos do AI – 5, em 13 de dezembro de 1968, que mergulhou o país na noite-sem-fim das torturas, mortes, prisões e banimentos.

Saudações beatlemaníacas...